25) É curioso que Cavaco Silva afirme ter procedido a uma “análise cuidada” dos programas e candidatos dos vários partidos antes de chegar à conclusão de que a AD e Luís Montenegro são as melhores opções. Sabemos bem que, caso um economista como Cavaco terminasse o estudo concluindo que a sua colega Mariana Mortágua, líder do Bloco de Esquerda, tinha “qualidades claramente superiores em matéria de competência técnica e política, em matéria de capacidade de liderança do Governo e de defesa dos interesses portugueses na União Europeia”, não deixaria de anunciar esse facto ao país e talvez gravar um vídeo de apoio para o Bloco publicar no Tik Tok.
26) Marcelo Rebelo de Sousa quebrou o silêncio sobre o apagão quando se encontrava na Pontinha. A fazer o quê? Apesar da peça da RTP sobre o tema mostrar Marcelo a descerrar uma placa, a observar vários documentos em exposição ou a dar autógrafos a um grupo de crianças, o áudio da reportagem não fornece qualquer informação acerca daquilo que o levou ao palco das suas declarações de 2 de maio. É preciso consultar as páginas nas redes sociais dos autarcas odivelenses para descobrir que o chefe de Estado veio ao Quartel da Pontinha assinalar a requalificação do Núcleo Museológico do Posto de Comando do MFA (coisa irrelevante, de facto). É certo que as antigas e sonolentas peças do tipo “Político inaugura obra” já não se usam, mas as televisões focam-se apenas nas reações dos entrevistados ao caso do dia e raramente esclarecem onde eles estão e para que fim. A cobertura das campanhas eleitorais torna-se uma sucessão de cabeças falantes que se prolonga enquanto as pessoas e o cenário atrás dos líderes partidários vão mudando sem ninguém sequer notar. Se é para isto, os candidatos poderiam ficar em casa e limitarem-se a intervir diariamente por videochamada.
27) Através do acórdão n.º 97/2025, de 4 de fevereiro de 2025, o Tribunal Constitucional decretou a extinção do partido Aliança, na sequência de uma ação intentada pelo Ministério Público devido à não apresentação das contas da Aliança durante três anos consecutivos. Desapareceu assim, de forma discreta, a formação partidária com a qual Pedro Santana Lopes pretendia em 2018 abanar o sistema. Na verdade, a Aliança nasceu afetada por uma contradição: que eleitor desejoso de mudança votaria em Santana Lopes, o político mais “do sistema” (à exceção de Marques Mendes) de Portugal? Apesar do congresso fundador da Aliança, em fevereiro de 2019, ter sido acompanhado em direto pelos canais noticiosos, Santana queixar-se-ia ao longo desse ano de não receber a atenção mediática que merecia. Na verdade, a Aliança, o partido com três hinos, era uma espécie de PSD B que parecia viver numa época longínqua em termos de comunicação, reagindo às notícias com longos comunicados publicados no Facebook. Depois dos aliancistas não elegerem qualquer deputado nas legislativas de 2019, Santana compreendeu que seria impossível concretizar a sua ideia de promover em Odivelas uma espécie de Festa do Avante da direita. O primeiro líder sairia do partido em janeiro de 2021, sucedendo-lhe Paulo Bento e, mais tarde, Jorge Nuno Sá, com o qual a Aliança passaria dos cerca de 40 500 votos de 2019 para os 2693 das legislativas de 2022. Por essa altura, a Aliança parecia tornar-se um partido “barriga de aluguer” semelhante ao Nós, Cidadãos, tendo passado por lá figuras como Ossanda Liber. No início de 2024, MPT e Aliança formaram a coligação Alternativa 21, encabeçada por Nuno Afonso, ex-amigo de André Ventura e antigo vice-presidente do Chega, mas o “produto tipo Chega” vendido por Afonso não teve sucesso. Um cartaz com o rosto de Nuno Afonso e a frase “Vamos Limpar a Direita Bacoca” foi então colocado na praça lisboeta do Saldanha… e continua lá, mais de um ano depois. A Aliança esfumou-se e o MPT aproximou-se da AD, mas tem de haver alguém que a Câmara de Lisboa possa obrigar a remover aquele trambolho.
28) O Partido Liberal Social, com listas de candidatos apresentadas nos círculos de Lisboa, Porto, Setúbal, Europa e Fora da Europa, divulgou no seu programa eleitoral algumas das medidas concretas que defende. Inevitavelmente, a tendência do (e)leitor é procurar as diferenças entre o PLS e a Iniciativa Liberal, visíveis nos países apontados como exemplos a seguir por Portugal: enquanto a IL elogiou inúmeras vezes a Irlanda e os países da Europa de Leste, os liberais sociais destacam sobretudo a Estónia, a Dinamarca e os Países Baixos. Também não se encontram no discurso do PLS referências constantes ao crescimento económico, a privatizações e à baixa de impostos, embora o partido acredite que a reorganização e descentralização da Administração Pública permitiriam reduzir a tributação. O “S” da sigla impele o PLS a afirmar que “ser liberal não significa abdicar do social” e o crescimento das despesas sociais não conduz necessariamente a uma expansão descontrolada do Estado. A digitalização é fundamental para os membros do PLS, que pretendem aplicá-la a todos os setores públicos, além de recorrerem a uma app para comunicarem entre si. Não cabe aqui enumerar as “12 Ideias para Mudar Portugal” dos liberais sociais, como o voto eletrónico, mas verifica-se uma aparente contradição. Apesar do modelo educativo do PLS atribuir “Autonomia Curricular e de Gestão” às escolas, os “agentes de mudança” comandados por José Cardoso querem incutir nos alunos características como “o espírito empreendedor, a capacidade de inovação e a responsabilidade social”, dar-lhes “literacia política”, treiná-los para o “pensamento crítico”, obrigá-los a estudar “Educação Ecológica” e divulgar “a literacia digital, a programação, a robótica, a inteligência artificial e a sustentabilidade” nos vários níveis de ensino. De facto, o PLS acredita no indivíduo, em particular no indivíduo formado pela Escola Liberal Social Avançada (ELSA).
(Fonte da imagem: Luís Montenegro)
29) Encontra-se disponível uma versão instrumental do hino de campanha do PS, “O Futuro É Já”, cujos autores são desconhecidos. Curiosamente, a canção fica bem melhor sem a letra, repleta de clichés e que parece gozar consigo própria (“Com o PS p’ra mudar, ah, ah”). Poderíamos extrapolar dizendo que os melhores líderes políticos são precisamente aqueles que fornecem o ritmo mas deixam os cidadãos escrever o seu próprio caminho. No entanto, isso seria talvez uma conclusão demasiado forçada.
30) Três candidatas com o apelido Salazar concorrem a estas eleições legislativas, mas nenhuma delas o faz apresentando-se nas listas do Chega ou do Ergue-te. Os eleitores poderão votar em Paula Colaço Salazar (PLS, Lisboa), Daniela Andreia Viola Ferreira Salazar (Livre, Évora) e Cláudia Sofia Andrade Salazar (PS, Porto).
31) Não é fácil para os partidos mais pequenos completar as listas aos círculos que elegem mais deputados, nomeadamente Lisboa e Porto, pelo que se torna comum o recurso a amigos e familiares das principais figuras dessas organizações para preencher as vagas em falta. No caso do PPM, porém, é demasiado nítido que os Bragança não são a única família relevante para os monárquicos. Os candidatos do partido pelo distrito do Porto incluem, além do cabeça de lista, António João Fontes Maia, mais três Maias. Outro clã importante no rol são os Stone, representados por Diego Schutz Stone e Graça de Odete Pimentel Vieira Stone. Há ainda cinco Amorins, quatro Emílios e três Domingos (Gregório, Maria João e Gregory Domingos), enquanto os Ferreira da Silva fornecem três candidatos. Já em Lisboa, surgem na lista do PPM cinco pessoas com os apelidos Câmara Pereira (há mais uma na lista de Beja e outra em Évora), mas famílias como os Abraços Estêvão (Susana, Sandra, Maria de Guadalupe, Amândio, José Maria e Fernando), os Pato (Maria Alexandra, Gabriel e Maria de Lurdes) ou os Muñoz (duas Marias do Carmo, Maria Leonor e Diogo) também estão presentes em força. Ninguém melhor que o PPM para dizer: “Mais do que um partido, somos uma grande família”.
20) Num aparente crescendo de otimismo, o Chega faz campanha afirmando avançar “rumo à vitória” (reutiliza-se assim o título de um livro de Álvaro Cunhal escrito em 1964) e apresentando André Ventura como candidato a primeiro-ministro. Obviamente que a hipótese do partido de extrema-direita atingir o primeiro lugar em 18 de maio é muito improvável… mas não impossível. Repare-se que as sondagens mais recentes estimam o eleitorado do Chega em cerca de 20%, valor impensável há apenas três anos, e consideram verosímil uma vitória cheguista nos círculos de Lisboa e Setúbal. Claro que apenas se as coisas corressem muito bem a André Ventura e muito mal a Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos seria admissível que a contagem dos votos apurasse, por exemplo, 24,8% para o Chega, 24,4% para a AD e 23,9% destinados ao PS. Mesmo se, por caprichos do método de Hondt, o PSD formasse um grupo parlamentar com mais deputados que o do Chega, uma votação superior deste permitiria a Ventura proclamar-se primeiro-ministro eleito, colocando Marcelo Rebelo de Sousa numa situação embaraçosa. Viabilizaria o PSD um Governo liderado pelo seu antigo militante? Na verdade, um cenário deste tipo assemelhar-se-ia a um apagão que interrompesse as comunicações e o fornecimento de eletricidade em todo o país: poderíamos imaginá-lo de forma teórica, mas só na prática se conheceriam as suas consequências.
21) Na terça-feira que se seguiu ao Dia do Apagão, enquanto as reações online se dividiam entre a malta do caos e a malta da festa, tornava-se nítido que o blackout não deverá ajudar nem prejudicar a AD nas eleições legislativas, até porque o retomar em cerca de 10 horas do abastecimento de eletricidade não era considerado um feito do Governo. A tradicional unidade nacional em torno dos líderes verificada num cenário de calamidade poderia ter dado a Luís Montenegro uma imagem de estadista, reforçando-o politicamente à semelhança de António Costa em 2020, no início da pandemia. De resto, o Governo pouco mais poderia fazer durante a crise do que aquilo que fez, ou seja, manter-se em reunião permanente enquanto monitorizava a situação no país. Haveriam decerto, porém, alternativas à centralização da comunicação, ligada à habitual preocupação de Montenegro em ser o único a falar. Pensando bem, depois de ouvirmos Manuel Castro Almeida narrar com orgulho o plano governamental para abastecer a Maternidade Alfredo da Costa através de jerricans de gasolina, compreendemos melhor o desejo do primeiro-ministro de protagonismo exclusivo.
22) Interrogado por uma jornalista da RTP sobre a ausência de um comunicado relativo ao apagão por parte da ministra da Administração Interna, Castro Almeida perguntou porque deveria existir tal mensagem. Chegou, realmente, o momento de dizer a verdade: a ministra da Administração Interna não existe. Trata-se de uma lenda sem qualquer fundamento histórico. A sério, alguém acredita que há mesmo uma pessoa de carne e osso chamada Margarida Blasco? As poucas imagens dela disponíveis foram claramente produzidas por Inteligência Artificial. Mitos deste tipo são importantes na definição da identidade nacional, mas a dada altura os historiadores não podem tolerar mais a difusão de narrativas fantasiosas aceites pelo povo como se fossem verídicas. Margarida Blasco é o nada que é nada.
23) No seu julgamento político a propósito do caso Spinumviva, Luís Montenegro tem usado como trunfo a inexistência de uma arma fumegante, ou seja, de uma decisão do primeiro-ministro que possa ser apontada como um favor feito ao grupo Solverde ou a qualquer outro dos seus clientes. Durante a sessão realizada em Carcavelos, Pedro Nuno Santos surpreendeu ao pegar num lenço para manusear uma pistola na qual, segundo ele, Montenegro deixara as impressões digitais da sua inação, suficiente para garantir à Solverde a manutenção da concessão estatal do jogo. Foi um gesto arrojado que, apesar de gerar um “ah!” na plateia, revelou-se insuficiente por si só para obter a condenação do réu, o qual afirmou estar a ver o revólver em causa pela primeira vez. No fim de contas, trata-se de um julgamento com jurados portugueses onde, à falta de provas inequívocas de ilícitos, o veredito depende da opinião do júri sobre aquilo que é mais verosímil à luz do senso comum. Os atos provados em tribunal e admitidos a pouco e pouco pelo arguido foram, como a defesa afirma, normais, inocentes e católicos? Ou a acusação, ao destacar os vários comportamentos suspeitos do réu, construiu um caso suficientemente forte para obter uma vitória? Enquanto os jurados não votam para chegarem a uma decisão, alguns deles pensam sobretudo nas senhas de refeição e no tempo gasto com estes julgamentos à americana, avessos ao costume luso de confiar todas as decisões judiciais à direção do Correio da Manhã.
24) O crescimento nas legislativas de 2024 do número de votos na Alternativa Democrática Nacional, ou, como todos lhe chamam, o ADN, foi atribuído à confusão de siglas feita por muitos eleitores que pretenderiam colocar a sua cruz no quadrado da AD. Contudo, as eleições europeias mostraram que o fenómeno ia além desse epifenómeno e existia em Portugal um (pequeno) nicho eleitoral para o chalupismo. O crescimento do ADN passa despercebido por não ocorrer na televisão, registando-se sobretudo através da Internet e de algumas igrejas evangélicas, ligadas ao setor mais à direita da comunidade brasileira. A mistura entre religião e política e a defesa dos valores familiares tradicionais, supostamente ameaçados pela “ideologia de género”, começam a germinar no solo português, até aqui pouco favorável ao conservadorismo nos costumes (os ventos vindos dos EUA também ajudam). Se Bruno Fialho e outros dirigentes do ADN fazem os deputados do Chega parecerem portugueses comuns, a profissional da indignação Joana Amaral Dias possui a experiência mediática e a influência nas redes sociais adequadas para dar visibilidade ao antigo PDR quer nas legislativas quer nas presidenciais. O provável regresso de Amaral Dias à Assembleia da República reforçará a fragmentação do hemiciclo, mas contribuirá para fornecer alguma animação aos debates parlamentares, que se tornaram um pouco aborrecidos com os excessos de moderação, seriedade e boa educação verificados nos últimos anos.
(Membros da Juventude Chega apoiam André Ventura após o debate deste com Luís Montenegro. Fonte da imagem: Rita Matias)
14) Há um poema de Isidoro Augusto publicado em A Importância da Luz (2008) que parece ter sido escrito a pensar nos apoiantes do Chega: “moldam-se por ventura/às mais simples esferas/o esse outro compasso/de um obtuso surgir/a crença ela mergulha/mesmo antes da cônscia/escolha”.
15) “É a economia, estúpido”? A ideia de que os eleitores votam sobretudo “com a carteira” tem tido boa imprensa, mas torna-se cada vez mais duvidosa. Quando era colunista do Público, Rui Tavares dedicou-se a mostrar a liberais e marxistas que muitas vezes as pessoas tomam opções de voto conflituantes com os seus interesses materiais e até sem qualquer explicação racional. Em vários países, o voto parece ser cada vez mais “identitário”, resultando de uma dada maneira de ver o mundo ou pelo menos da rejeição da perspetiva que se abomina. Na atual conjuntura eleitoral portuguesa, é ainda uma incógnita até que ponto o povo lusitano valoriza a situação económica favorável, com dívida, défice e desemprego controlados, de que Joaquim Miranda Sarmento se apresenta como o rosto público. Curiosamente, Miranda Sarmento destaca-se no Governo AD pelos seus problemas de comunicação, ao transmitir sempre a ideia de que recebeu o guião há poucos minutos e ainda não teve tempo de estudá-lo, situação que o leva a falar demais para o gosto de Luís Montenegro. Por várias vezes, o ministro das Finanças tem sido mantido nos bastidores enquanto os colegas mais politicamente tarimbados ocupam o palco. Na verdade, Sarmento reuniu no seu gabinete uma equipa formada por alguns dos melhores economistas nascidos depois do 25 de Abril, mas ignora-se se o trabalho feito no Terreiro do Paço dá nas vistas num ambiente onde os temas económicos, mediaticamente esmagadores antes da pandemia, vão perdendo espaço para as “perceções”. Ainda se lembram de quando aquilo que os portugueses pensavam sobre a realidade era igual ao litro? Bem, hoje o que importa aparentemente não é a frieza dos números, mas sim o calor da eterna chama das emoções.
16) Quando Luís Montenegro ainda estava na oposição, referiu-se a um Orçamento de Estado socialista como “orçamento pipi”. Interrogado por um jornalista a propósito da expressão plebeia, o líder do PSD afirmou que “as pessoas” gostavam dessa linguagem e estavam fartas do discurso “politicamente correto”. Ou seja, Luís Montenegro é um daqueles políticos que baixam propositadamente o nível por acharem que assim serão mais populares. Mais tarde, já com Montenegro no Governo, percebeu-se que manter reduzidas as expetativas dos cidadãos é a verdadeira “montenegrização” (neologismo criado agora por Luís). Sem ir tão longe como a venturização, que baixa o mais possível a exigência dos indivíduos acerca de si próprios, a montenegrização visa sobretudo aumentar a tolerância ou a indiferença dos eleitores no que respeita à classe política. Essa já era, de resto, a tendência predominante há muito tempo. Depois de assumir a liderança do PSD em 2022, Montenegro não despertou entusiasmo mesmo entre os comentadores de direita, ainda embeiçados por Passos Coelho. Mas pronto, era o espinhense quem lá estava, ver-se-ia no que aquilo ia dar. Ao longo do ano de governação da AD, a reação mais comum à atuação do executivo, de acordo com as sondagens, foi um encolher de ombros. De facto, mesmo entre os apoiantes da coligação, os ombros continuam a encolher-se depois da eclosão da crise política e da antecipação das legislativas. Alguém compraria uma bicicleta usada a Luís Montenegro? Claro que não, mas a montenegrização em curso torna tudo irrelevante. Mesmo que os nossos não se portem bem, os outros certamente fariam igual ou pior. O PSD usa meios do Governo em iniciativas de campanha? O programa da AD é demasiado otimista e ninguém acredita que seja cumprido? As conferências de imprensa não incluem o direito a perguntas dos jornalistas? Tudo isso é normal, tépido, pacífico, indiferente. Verifica-se a transposição para a política daquilo que Os Três Duques, a série preferida do primeiro-ministro, fez na televisão. Sim, poderia haver histórias complexas e personagens profundos, mas para quê se toda a gente se entretém com perseguições automóveis, cenas de porrada, polícias idiotas, um cacique obeso e uma gaja boa decotada? Preservar o controlo das expetativas faz o carro laranja voar.
17) O site da campanha do PS (sob o lema “O futuro é já”) apela à mobilização dos visitantes, de modo a que as redes sociais sejam inundadas por conteúdos favoráveis ao projeto liderado por Pedro Nuno Santos. Para tal, disponibiliza um conjunto de autocolantes digitais com fotografias do secretário-geral e de apoiantes do PS, tiradas sobretudo em eventos partidários recentes e acompanhadas por mensagens expondo as ideias essenciais da campanha (“Pronto para Portugal”, “Quando o PS governa, a vida melhora”, “Junta-te a quem defende Portugal”, “Somos milhões a querer um futuro melhor”, “Portugal é feito de quem acorda cedo e luta”, “Orgulho nas mangas arregaçadas”, “Por um Portugal com amor e empatia”, etc.). Contudo, as palavras raramente combinam com as fotos escolhidas. Por exemplo, a frase “Com o PS, as pensões cresceram” surge como título de uma fotografia em que, durante o lançamento da candidatura autárquica de Manuel Pizarro, Pedro Nuno Santos cumprimenta Tiago Barbosa Ribeiro e outros dirigentes do PS-Porto ainda distantes da idade da reforma. Noutro autocolante, sucede o inverso: os socialistas garantem que “Queremos o melhor para os nossos jovens”, mas, a avaliar pela imagem, não é nos comícios do PS que esses jovens estão.
18) Procuro infrutiferamente estabelecer uma comparação entre as retóricas de Nuno Melo e André Ventura. Dizer o que o primeiro constitui uma versão beta do segundo, além de demasiado óbvio, é inexato: o estilo de Melo não é o de Cascais, antes está ligado a uma certa maneira de ser da gente rica do Norte. Nuno Melo é certamente uma personagem de Camilo, mas não li o romance onde o líder do CDS aparece. Por outro lado, embora ignoremos se os antepassados de Melo combateram por D. Miguel, sente-se que o ministro da Defesa ainda não digeriu bem o resultado da guerra civil concluída em 1834. Certo é que, até há seis anos, a truculência de Nuno Melo era o ponto máximo que o discurso da direita podia atingir, mas, a avaliar pelas europeias de 2019, já nessa altura o registo não obtinha grande popularidade. Digamos que, sempre que entra num povoado, Melo exige de imediato a pousada devida a um fidalgo e evita dialogar com gente da plebe, enquanto André Ventura desce do cavalo, aproxima-se dos “ventres ao sol”, imita a maneira deles de falar, bebe com eles nas tabernas e concorda com tudo o que dizem. Como um aristocrata do Antigo Regime, Nuno Melo está disposto a conduzir a populaça rumo ao campo de batalha, mas usa sempre uma vistosa cabeleira para deixar claro quem manda ali.
19) Para lá daquelas pessoas que se gabam de não assistirem a um único debate televisivo entre os líderes partidários, a maioria dos portugueses já se habituou ao formato agora vigente. Até as notas atribuídas aos políticos pelos comentadores de alguns canais noticiosos são consideradas parte do folclore. Resta saber se as audiências dos debates representam um sinal do interesse dos cidadãos pelo processo eleitoral. Esse tipo de afirmação faz recordar a convicção dos programadores de que os portugueses adoram telejornais com mais de uma hora de duração. Afinal, ter a televisão ligada à hora do jantar não é o mesmo que prestar atenção contínua àquilo que se passa no ecrã, muitas vezes transformado em ruído de fundo. Seja como for, os debates são valiosos sobretudo para os partidos mais pequenos, com o PAN e o Livre a aproveitarem para divulgar o seu trabalho parlamentar, geralmente pouco conhecido. Rui Tavares e Inês Sousa Real revelam-se, aliás, mais combativos e empenhados nos despiques verbais do que se previa. Quanto aos outros candidatos, não têm apresentado nada de muito surpreendente, incluindo a habitual peixeirada de Ventura. Falta agora um mês para as eleições. Até ao lavar dos cestos é vindima, pois claro. No entanto, se excetuarmos a saída do PPM da AD, o que aconteceu de verdadeiramente relevante desde a queda do Governo em 11 de março? Apesar do ruído, a política parece hibernar durante as campanhas eleitorais.
7) Pouca gente repara, mas é possível saber no portal do Recenseamento Eleitoral a freguesia na qual se encontra registado qualquer eleitor português, bastando para tal conhecer o nome completo e a data de nascimento da pessoa em causa. Assim, com a ajuda da Wikipedia, conseguimos descobrir onde as celebridades depositam o seu voto na urna. Por exemplo, a atriz Rita Pereira continua recenseada em Carcavelos, a sua terra de origem. Se tiver muito tempo livre, pode passar horas nesta divertida pesquisa.
8) A estatística (considerada exagerada por alguns comentadores) segundo a qual o número de imigrantes em Portugal quadruplicou entre 2017 e 2024 põe-nos a pensar naquilo que não aconteceu, à semelhança do êxodo dos “retornados” ocorrido na década de 70. Se uma mudança demográfica tão rápida e profunda afetou o país sem causar mais conflitos e problemas do que os conhecidos, então a integração dos novos habitantes foi um sucesso maior do que se imaginava, provando que a nossa economia desenvolveu nos últimos anos uma forte capacidade de criar emprego, ainda que talvez não nos setores mais aconselháveis. Claro que a chegada de tanta gente a um ritmo tão veloz gerou inevitáveis tensões xenófobas, politicamente aproveitadas pelo Chega e, depois de se compreender o valor do filão, por políticos “moderados” e responsáveis do centro-direita como Durão Barroso, sempre preocupado com a falta de atenção das “elites” europeias à vontade do “povo”. Na verdade, o tema da imigração é valorizado por poucos eleitores, mas quem se preocupa com esse assunto torna-se quase obcecado. De pouco serve relembrar as vantagens económicas e demográficas da vinda de estrangeiros em idade fértil a quem, numa reação compreensível mas não necessariamente correta, apenas quer que o tempo volte (ou vote?) para trás.
9) As eleições legislativas portuguesas costumam ser muito paroquiais, ignorando-se durante as campanhas os eventos em curso no resto do mundo. Deste modo, tudo é possível e qualquer proposta é realizável até que, no dia a seguir ao sufrágio, se descobre com estupefação que há um contexto internacional a influenciar-nos. No caso das eleições de 2025, a apreensão generalizada com os efeitos das “trumpalhadas” diárias impossibilita essa atitude de alheamento, mas os acontecimentos globais dificilmente inspirarão as opções de voto. Os eleitores que o PCP perdeu por causa da Ucrânia já renegaram a foice e o martelo há muito tempo e nada mudou desde então. O genocídio em Gaza, para lá da questão de reconhecer ou não o estado da Palestina (demasiado rebuscada para ser posta pelos jornalistas aos líderes partidários), não gera grandes divisões, dado que a violência israelita, tradicionalmente criticada pela esquerda, atingiu proporções suficientes para remeter a direita a um silêncio embaraçado, à exceção do pessoal mais infantil ou lunático. Quanto ao rearmamento europeu, tornou-se bastante consensual, isolando PCP e Bloco no campo da “paz”. Curiosamente, esse tema poderá assumir maior destaque nas presidenciais devido à profissão e ao falconismo de Henrique Gouveia e Melo.
10) Jaime Nogueira Pinto costuma dizer, por outras palavras, que aquilo de que gosta no fascismo é que essa ideologia não pretende tornar o mundo melhor e simplesmente aceita a Humanidade como o dejeto sólido que é. De facto, urge compreender que o fascismo traz a liberdade, pelo menos a quem a ele adere. O militante de extrema-direita recebe um novo batismo que o livra de todo o pecado. Nunca mais terá que estudar melhor as questões, ouvir opiniões de quem sabe mais, ponderar diferentes hipóteses, respeitar os sentimentos dos outros ou tratar as pessoas como seres humanos. Adeus, culpa. Adeus, dúvidas. Adeus, ter de comprar rosas no Dia da Mulher. Por isso, pouco importa que nos debates André Ventura revele um discurso pobre, baseado na repetição incessante dos mesmos temas e até das mesmas palavras. Para os eleitores do Chega, Ventura esmaga, arrasa, destrói e extermina sempre. Quanto mais baixo for o nível de exigência, mais fácil é ser um herói.
11) Acumulam-se as semelhanças entre o Bloco de Esquerda e a Iniciativa Liberal, a começar pela tendência para uma propaganda mais convencional e “respeitável”. Difundir um cartaz com a palavra “Confiança” ao lado de Rui Rocha é como se, aos 8 anos de idade, a IL tivesse vestido um fatinho para fazer a primeira comunhão. Os perigos enfrentados pelos liberais na sua relação com o PSD são também análogos aos dos contactos entre o Bloco e o PS: se se aproxima demais, a Iniciativa pode receber um abraço de urso, mas caso se afaste muito será alvo de acusações de sectarismo e traição ao seu campo político. As dinâmicas internas de BE e IL assemelham-se na medida em que quem discorda da linha da direção tem poucas hipóteses de sucesso e acaba por sair do partido ou tornar-se irrelevante. No entanto, Bloco e Iniciativa aguardam 18 de maio com diferentes níveis de ansiedade. Enquanto a tribo de Mariana Mortágua corre risco existencial, o povo de Rui Rocha terá apenas de alcançar uns 10 deputados para poder cantar vitória.
12) O canal do You Tube Eleições em Portugal (antes conhecido por Banda Sonora das Eleições), responsável pela publicação de canções de sátira política, apresenta vários aspetos curiosos. Desde logo, os temas, cuja conceção denota cuidado apesar de ocasionais tropeções na rima e na métrica, não vêm acompanhados da identificação nem de autores nem de intérpretes. Além disso, embora o criador desconhecido do canal afirme pretender fazer humor a respeito de “todos os partidos”, apenas políticos de esquerda têm sido vítimas de raps, fados ou rocks com letras ácidas. Pelo menos, essas composições possuem mais hipóteses de serem levadas a sério do que o novo hino de campanha da AD (“Deixa o Luís trabalhar”).
13) A lista de candidatos da Iniciativa Liberal pelo círculo de Lisboa inclui os odivelenses André Francisco (em oitavo lugar), David Pinheiro e Marta Gamboa. Entretanto, já depois de um plenário de militantes da concelhia de Odivelas, o PSD designou Marco Pina como candidato a presidente da Câmara, numa repetição da escolha de 2021. Convicção de que a vitória é desta ou apenas falta de alternativa? Para já, o PSD, em cuja bancada parlamentar Sandra Pereira busca manter-se, tem coisas mais urgentes com que se preocupar.
(Distribuição de folhetos da CDU na Pontinha. Fonte da imagem: CDU Odivelas)
(Até 18 de maio, teremos aqui todas as semanas breves notas sobre a campanha para as eleições legislativas, além de uma canção dos Ban)
1) As sondagens da empresa Aximage têm sido ignoradas, por razões óbvias: são encomendadas pelo Chega e divulgadas pelo partido na Folha Nacional e nas redes sociais. Contudo, os valores atribuídos por esses inquéritos às diferentes forças partidárias, incluindo o Chega, são verosímeis, com os estudos a apontarem cerca de 20% para a hoste de André Ventura a nível nacional e a preverem um segundo lugar do Chega no círculo de Setúbal, onde alcançaria uma ligeira vantagem sobre a AD. As tendências para a fragmentação da direita e o declínio do PSD na Grande Lisboa poderão levar a uma situação na qual Chega e Iniciativa Liberal tenham em conjunto mais votos que a AD. Simbolicamente, seria um marco importante.
2) Os inquéritos de opinião mais interessantes são aqueles que apresentam uma segmentação das intenções de voto por categorias como região, género, rendimento ou faixa etária dos eleitores que cedem alguns minutos do seu tempo às empresas de sondagens (costuma ser menos de um terço dos indivíduos contactados por telefone). É curioso, por exemplo, ver a AD liderar entre os idosos, fenómeno que há apenas dois anos era considerado impossível; afinal, como poderiam os “dependentes” do Estado votar contra o “socialismo”? Também não deixa de ser assinalável que o apoio ao Chega seja maior entre os portugueses nascidos na década de 80. Numa análise por regiões, um olhar atento sobre a Grande Lisboa, pelo menos tal como é delimitada nos estudos, dá sinais animadores para o Livre e aterradores para o Bloco de Esquerda. O regresso à ribalta dos fundadores do BE não deveria significar o recuo do partido para os números de 1999.
3) Numa entrevista ao Público, Francisco Louçã recorreu a uma sondagem para tentar provar o dinamismo do BE e, uns dez minutos depois, afirmou estar-se “nas tintas para as sondagens”. Com o avançar da idade, Louçã adquiriu uma memória bastante seletiva, sobretudo no que respeita aos eventos posteriores a 2020, acusando o Governo de maioria absoluta de António Costa de ter sido o “pai” do crescimento do Chega. Pois, aquele Governo que saiu das eleições de 2022, nas quais o Bloco caiu para cinco deputados enquanto o Chega passava de um para 12. Mesmo que o último executivo de Costa fosse tão desastroso como Louçã afirma e tivesse acabado no dia em que o então primeiro-ministro simplesmente se fartou de o ser, isso não explica porque foram os cheguistas e não os bloquistas a capitalizar o descontentamento social. De outra forma, Fernando Rosas, que recentemente acusou o PS de se “fazer de morto” no combate à extrema-direita, já tinha trilhado, no livro Direitas Velhas, Direitas Novas, um caminho de culpabilização dos socialistas e zero de autocrítica do Bloco. “Agora a culpa foi minha, não?!” Não, prof. Rosas, não foi sua. Na verdade, nesta altura do campeonato em que o Chega sonha erguer o troféu, parece ingénuo supor que tudo poderia ser diferente se alguém tivesse entrado pela porta 2 em vez de abrir a porta 1.
4) José Cardoso e os outros (desconhecidos) dirigentes do Partido Liberal Social têm tido dias muito ocupados no afã de encontrar candidatos, em particular mulheres, suficientes para o recém-legalizado partido apresentar listas ao sufrágio de 18 de maio, aproveitando a campanha para se dar a conhecer ao público. O projeto do PLS revela-se interessante, quanto mais não seja por ousar retornar ao velho costume de incluir a palavra “partido” no nome e querer ser conhecido por uma sigla. A ideia de uma IL mais moderada, ou uma espécie de Livre da direita, seria importante para contrariar a vaga polarizadora. Contudo, o programa do PLS é ainda vago, abundando em objetivos com que praticamente todos os cidadãos estarão de acordo. No que respeita à saúde, educação e habitação, os liberais sociais defendem a “liberdade de escolha” e acreditam nos efeitos positivos do reforço da oferta. Nesse aspeto, não há grande diferença em relação à Iniciativa, enquanto o restante conteúdo programático pouco clarifica quanto às novidades trazidas pelo cardosismo. Veremos se o PLS consegue pegar no megafone e começar a sua luta.
5) Com uma AD surpreendentemente confiante, predomina neste momento a ideia de que a votação de maio deixará o Parlamento idêntico, ou talvez ainda mais inclinado à direita. Os dois meses de campanha seriam assim, como Luís Montenegro os descreveu, um mero parênteses após o qual poderíamos voltar à rotina. É possível, ou então o povo português prepara-se para pregar outra partida aos políticos e comentadores. Um destes últimos, Marcelo Rebelo de Sousa, mostrou-se crente na relevância dos debates televisivos para a definição do sentido de voto da nação soberana. Enfim, não direi que os debates sejam inúteis, sobretudo para os partidos mais pequenos, cujos líderes necessitam de se destacarem mediaticamente. No entanto, fiquei traumatizado pelo debate de janeiro de 2022 entre Rui Rio e António Costa, alvo de uma antevisão televisiva semelhante à de um jogo da seleção de futebol e a seguir ao qual uma parte esmagadora da crítica declarou o triunfo de Rio. Depois viu-se como esse debate influiu na escolha do eleitorado.
6) A campanha das eleições autárquicas vai arrancando à mistura com a das legislativas, embora muitos dos candidatos a edis ainda estejam por anunciar. Há pouco tempo, o deputado Bruno Nunes (sim, aquele que um dia André Ventura terá de eliminar), candidato do Chega à Câmara de Loures, deu um salto a Odivelas para abraçar o seu correligionário Fernando Pedroso e filmar um alerta para a ameaça asiática. Nunes tirou algumas fotos com militantes do Chega – Odivelas perto da estação de metro da cidade.
Alexandrino, Pedro (1729-1810). O lisboeta Pedro Alexandrino de Carvalho passou muito tempo na sua Quinta do Pintor, perto da Póvoa de Santo Adrião. Orientou outros pintores na chamada Academia do Nu, em Lisboa, e foi um dos artistas portugueses mais prolíficos do século XVIII. Com numerosas encomendas de ordens religiosas, o “pintor dos frades” produziu obras para igrejas como as de Odivelas e Póvoa de Santo Adrião, necessitadas de renovação após os danos causados pelo terramoto de 1755. O nome de Pedro Alexandrino encontra-se numa rua e na escola secundária da Póvoa.
Carvalho, Joaquim (1937-2022).Natural do Barreiro, Joaquim da Silva Carvalho trabalhou na indústria corticeira antes de se tornar futebolista profissional, na posição de guarda-redes. Estreou-se como sénior no Luso e transferiu-se em 1958 para o Sporting, representando os "leões" durante 12 anos e ganhando uma Taça das Taças e três campeonatos nacionais, além de vestir a camisola da seleção portuguesa por seis vezes. A partir da década de 60, viveu em Odivelas, onde abriu a papelaria Lina e foi treinador de guarda-redes do Odivelas FC.
Castro, Francisco(1915-?). Estafeta de profissão, começou a praticar ciclismo aos 18 anos, numa bicicleta comprada com o dinheiro ganho a vender jornais. O ciclista odivelense representou as equipas do Lisboa Ginásio Clube, Benfica, Desportivo da CUF e Lisgás e venceu provas como o Circuito de Moscavide (1940) e a Rampa do Vale de Santo António (Lisboa) de 1942, ano em que atingiu a segunda posição no campeonato nacional de fundo, antes de deixar de competir em 1944.
Dinis, D. (1261-1325). O sexto rei de Portugal escolheu uma propriedade sua em Odivelas como a localização de um mosteiro feminino cisterciense, fundado por carta de 27 de fevereiro de 1295 e consagrado a S. Dinis e S. Bernardo. D. Dinis protegeu a nova instituição monacal, doando-lhe vários bens e isentando-a das normas que limitavam a expansão do património das ordens religiosas. Num testamento escrito em 1322, o Lavrador registou a sua vontade de ser sepultado num túmulo edificado no mosteiro de Odivelas, tal como aconteceria três anos depois. O nome de D. Dinis marca hoje o quotidiano dos odivelenses pela sua presença na toponímia, em edifícios públicos ou em estabelecimentos comerciais.
(Fonte da imagem: Nuno Gaudêncio)
Essugo, Dário (2005-).O futebolista Dário Cassia Luís Essugo, filho de imigrantes angolanos estabelecidos no concelho de Odivelas, iniciou a sua formação nos infantis da UDR Santa Maria, chamando a atenção de Benfica e Sporting. Depois de optar pelos "leões", o médio conheceu uma rápida ascensão nos escalões jovens e, com apenas 16 anos, estreou-se em 2021 na equipa sénior orientada por Ruben Amorim. Seria emprestado pelo SCP ao Chaves e ao Las Palmas antes do anúncio da futura transferência de Essugo para o Chelsea na temporada de 2025/2026.
Ferreira, António (1651?-1671). Na noite de 10 de maio de 1671, este trabalhador rural de Odivelas entrou na igreja matriz da localidade e roubou os vasos sagrados e outros objetos do culto, numa profanação que causou choque em todo o reino. Preso a 16 de outubro desse ano quando furtava galinhas no mosteiro odivelense, foi descoberto na posse de peças oriundas da igreja, confessando a autoria do roubo de 10 de maio. Apesar dos interrogatórios a que o jovem foi submetido pela Inquisição revelarem que agira embriagado e sem consciência da gravidade do crime, António Ferreira seria executado em Lisboa a 23 de novembro desse ano, num auto-de-fé que encerra a história contada nos azulejos do monumento setecentista ao Senhor Roubado.
França, Licínio (1953-2021). Originário da Pontinha, o ator e músico Licínio Conceição de Miranda França gravou vários discos a partir de 1975 e lançou diversos projetos musicais, como um duo formado na década de 1980 com Noémia Costa, então sua mulher. Colaborou na organização do Festival da Canção Infantil da Pontinha em 1982 e 1983. França trabalhou como ator no teatro musical e de revista, bem como em numerosas produções televisivas. Os seus últimos anos de vida foram marcados pela pobreza e pela doença de Alzheimer, falecendo quando vivia num lar em Caneças.
Gomes, Diogo José (1913-1931). Depois de estudar no seminário de Santarém, Diogo José Gomes Júnior trabalhou numa loja. Adepto do Sporting, jogou futebol como defesa direito na equipa do Odivelas Football Club, surgida em 1930. O jovem Diogo ficou gravemente doente no Outono de 1931 e faleceu em Odivelas a 8 de dezembro desse ano, com centenas de pessoas a comparecerem no seu funeral. Duas décadas mais tarde, o campo de futebol construído por outro Odivelas FC (criado em 1945) seria batizado com o nome do malogrado Diogo José Gomes.
Martins, Jorge (1953-). O professor de História Jorge Carvalho Martins ensinou no ISCE e na escola secundária da Pontinha, que por sugestão sua adotou em 1995 o nome de Escola Secundária Braamcamp Freire. Doutorado em História Contemporânea, Martins investiga temas como a história local de Odivelas, a presença judaica em Portugal ou a ação repressiva da Inquisição. É autor dos livros O Sacrilégio de Odivelas, Subsídios para a História da Pontinha, Portugal e os Judeus e Breve História dos Judeus em Portugal, entre outros.
Passos, Manuel do Cabo (1878-1956). Industrial odivelense, aderiu ao Partido Republicano Português, integrando as comissões do PRP no município de Loures e em Odivelas, a cuja junta de paróquia presidiu depois do derrube da monarquia. Foi eleito vereador da Câmara lourense em 1913, ano em que lançou um abaixo-assinado contra a criação de uma fábrica de adubos no Lumiar.
Passos, Olga (1915-1982).Filha de Manuel do Cabo Passos e Mariana da Conceição Neves, Olga Passos estudou no Instituto de Odivelas e seguiu a carreira de professora primária. Ensinou em várias escolas do distrito de Lisboa, vindo a tornar-se diretora da Escola Primária n.º 2 de Odivelas (a atual EB António Maria Bravo), então reservada a raparigas. Discursou na festa de inauguração do Campo Diogo José Gomes, em novembro de 1952.
Os Plutónicos. Banda rock formada cerca de 1965 por jovens da Pontinha, entre eles o vocalista Gino Garrido, acompanhado por músicos como Vítor Capela, António Fernando Silva ou José Carlos Pimentel. Gravaram em 1967 o seu único disco, o EP Good Bye, My Love, com quatro temas originais. Os Plutónicos atuaram em numerosos bailes e em várias salas de Lisboa e arredores, além de participarem num programa da RTP. Apesar de algumas mudanças na formação causadas pelo serviço militar, mantiveram-se em atividade pelo menos até 1969, com o também pontinhense António José como agente artístico.
Simas, Frederico Ferreira(1872-1945). Durante a I República, o oficial de artilharia Frederico António Ferreira de Simas, coronel a partir de 1922, foi senador, adido militar em Londres e ministro da Instrução Pública (1914-1915 e 1915-1916) e do Comércio e Comunicações (1925). Professor e membro de vários organismos ligados ao ensino, Simas exerceu entre 1919 e 1941 as funções de diretor do Instituto Feminino de Educação e Trabalho, em Odivelas. Desenvolveu várias inovações pedagógicas no Instituto, cujo ensino infantil e primário abriu às crianças odivelenses.
Varges, Manuel (1943-). Natural de Almendra (Vila Nova de Foz Côa), Manuel Porfírio Varges veio para Lisboa ainda adolescente e tirou o curso de Finanças como trabalhador-estudante, tornando-se quadro superior da Rádio Marconi. Após o 25 de Abril, aderiu ao PS, pelo qual seria vereador na Câmara de Loures e deputado à Assembleia da República, onde participou na criação do concelho de Odivelas. Varges assumiu em janeiro de 1999 a liderança da comissão instaladora do município e, após vencer as eleições autárquicas de 2001, foi o primeiro presidente da Câmara de Odivelas, cargo que exerceu durante apenas um mandato.
Barroso, Susana (1974-).Técnica de informática nas piscinas de Odivelas, Susana Cristina Carvalheira Barroso distinguiu-se na natação adaptada, participando em todas as edições dos Jogos Paralímpicos realizadas entre 1992 e 2004, quando foi porta-estandarte da delegação de Portugal aos Jogos de Atenas, e tornando-se a atleta paralímpica portuguesa mais medalhada. Em 2005, trocou a natação pelo boccia, modalidade na qual estaria presente nos Jogos Paralímpicos de 2012. Além de receber distinções como o Prémio Municipal Beatriz Ângelo (2020), Susana Barroso viu o seu nome ser atribuído ao pavilhão municipal do Casal do Rato.
Bragança, D. José de (1720-1801). Filho de D. João V e Paula Teresa da Silva, era o mais novo dos “meninos de Palhavã”, designação atribuída aos três filhos ilegítimos do Magnânimo que, depois da morte do pai, viveram num palácio (a atual embaixada de Espanha) do então arrabalde da capital. D. José estudou no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde se doutorou em Teologia, e assumiu em 1758 o cargo de inquisidor-mor. Contudo, em 1761, devido a um conflito com o marquês de Pombal, foi desterrado juntamente com o seu meio-irmão D. António para o convento do Buçaco, do qual os infantes só sairiam 16 anos depois, quando Pombal deixou o poder.
Cabaço, Carlos (1940-2023). Além de funcionário dos TLP,Carlos Alberto Cardoso Cabaço foi dirigente do Ginásio Clube de Odivelas desde a fundação da coletividade, tendo exercido funções como as de presidente e vice-presidente e acompanhado durante mais de 40 anos a vida do clube. Em 2017, recebeu a distinção "Excelência Desportiva", atribuída pela Câmara de Odivelas.
Évora, Nelson (1984-). Veio com 5 anos para Odivelas, onde conheceu o treinador João Ganço e começou a praticar atletismo no Odivelas FC. Já no Benfica, especializou-se no triplo salto, disciplina da qual se sagraria campeão mundial em 2007. No ano seguinte, tornou-se em Pequim o quarto português a ganhar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Apesar de várias lesões, o saltador seria ainda campeão europeu em pista coberta (2015 e 2017) e ao ar livre (2019). Distinguido em 2009 com uma Medalha Municipal, grau Ouro, Nelson Évora tem visitado várias escolas do concelho para promover o desporto e foi homenageado pela Junta de Odivelas em 2023.
(Fonte da imagem: Humberto Fraga)
Ferreira, Armando Carlos (1947-2011). Armando Carlos Correia Soares Ferreira nasceu em Angola e estudou nos Pupilos do Exército. Trabalhou durante cerca de 30 anos em Odivelas como técnico de ar condicionado. Foi um dos fundadores do PPM, partido do qual seria secretário-geral (2005) e vice-presidente (2009), e desenvolveu atividade cívica ligada ao cinema e aos Bombeiros Voluntários. Em 2009, foi eleito deputado à Assembleia Municipal de Odivelas, vindo o seu nome a ser atribuído a uma rua da sede do concelho.
Ferreira, Fernando (1963-). Advogado e gestor de empresas, foi membro da Assembleia de Freguesia de Odivelas, vereador da Câmara de Loures e, depois da criação do município odivelense, vogal da Comissão Instaladora, vereador, presidente da Odivelcultur e candidato do PSD à presidência da CMO em 2001 e 2005. Desempenhou no Odivelas FC cargos como os de presidente da mesa da assembleia-geral (2002-2006) e presidente-adjunto.
Fidalgo, José (1979-). José Manuel Fidalgo Soares é um ator e modelo originário da Pontinha. Estreou-se no teatro em 1998, numa representação do Auto da Cananeia, de Gil Vicente, ocorrida no Mosteiro de Odivelas. Além de participar em numerosas telenovelas e campanhas publicitárias, entrou em filmes como O Fascínio, Linhas de Sangue ou Km 224. Nas autárquicas de 2005, foi mandatário da Juventude da candidatura de Fernando Ferreira (PSD) à presidência da Câmara de Odivelas.
Mamede, Ricardo Paes (1974-). Ricardo Nuno Ferreira Paes Mamede fez parte da direção da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Odivelas antes de estudar no Instituto Superior de Economia e Gestão e na Universidade Bocconi, em Itália, onde se doutorou em Economia. É professor desde 1999 no ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa e preside ao Instituto para as Políticas Públicas e Sociais. Escreveu livros como O Que Fazer com Este País (2015) e A Economia como Desporto de Combate (2016), além de comentar temas económicos para a RTP3 e o jornal Público.
Martins, Augusto Pais (1941-2004). Licenciou-se em Ciências Geológicas pela Universidade de Coimbra, onde foi dirigente da secção de futebol da Académica, clube abordado no seu livro O Grito das Capas Negras. Fundou em 1971 o Grupo Pedago, dedicado à educação e que incluiria o Externato de Odivelas, os Externatos Pica-Pau e, a partir de 1984, o Instituto Superior de Ciências Educativas (ISCE), o primeiro estabelecimento de ensino superior localizado no atual município odivelense. Augusto Pais Martins foi sócio benemérito do Odivelas FC, clube cuja presidência exerceu em dois períodos (1983-1985 e 1991-1996). Atualmente, o nome de Pais Martins encontra-se numa rua de Odivelas e no Centro Infantil criado pela JFO em parceria com o ISCE.
Mota, Leila Marques (1981-). Médica de clínica geral e familiar, trabalhou no centro de saúde de Odivelas. Destacou-se na natação adaptada, obtendo um 7.º lugar nos Jogos Paralímpicos de Pequim (2008). Depois de deixar a competição, foi a primeira mulher a presidir à Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD), com sede no Olival Basto. Recebeu em 2024 um diploma em Medicina Desportiva atribuído pelo Comité Olímpico Internacional.
Olaio, Tomás José (1896-1989). Como empresário, destacou-se no desenvolvimento da fábrica dos Móveis Olaio, situada em Sacavém. Em 1960, passou a ser construtor civil, comprando a Quinta do Espírito Santo, em Odivelas, para urbanizar os terrenos. Nas décadas seguintes, mudaria a face de Odivelas ao edificar o chamado Bairro Olaio. Apoiou a fundação do Ginásio Clube de Odivelas, ao qual ofereceu o atual Pavilhão Municipal, localizado na rua com o nome do construtor.
Paula, Madre (1701-1768). Paula Teresa da Silva e Almeida foi destinada pelo pai, um ourives de escassos recursos, à vida religiosa, tendo professado em 1718 como freira do Mosteiro de Odivelas, então muito frequentado pela nobreza da corte de D. João V. O rei e Paula iniciaram uma relação amorosa ainda antes de 1720, ano do nascimento do seu filho D. José. D. João V concedeu à amante, que ascendeu à categoria de madre, quantias avultadas e mobiliário de luxo para os aposentos dentro do mosteiro (a chamada “Torre da Madre Paula”, demolida em 1948) onde Paula e uma irmã viviam. As lendas sobre os amores da freira e do monarca circularam ainda no reinado de D. João V e, desde então, em vários livros e numa série televisiva da autoria de Patrícia Müller.
Rodrigues, José Lourenço (1934-2019). José Lourenço Rodrigues ("Mano Zé") nasceu no concelho de Mértola, instalou-se na Pontinha em 1954 e foi dirigente do CER Tenente Valdez e do Grupo de Atletismo da Pontinha. Aos 50 anos, começou a competir em provas de atletismo, tornando-se pentacampeão do concelho de Loures no escalão de veteranos. Homenageado várias vezes pelo Tenente Valdez, recebeu postumamente em 2021 a Medalha Municipal de Dedicação Pública, grau Bronze.
Santos, Helena. Maria Helena Santos de Almeida começou muito nova a cantar, atuando em festas do Grupo Recreativo dos Pombais. Depois de lançar em 1972 o seu primeiro single, a "miúda de Odivelas", como ficou conhecida, gravou vários discos de fados, marchas, pasodobles e outros géneros musicais. Com Marina Mota e Maria de Fátima, participou no álbum coletivo Juventude do Fado. Afastou-se da música aos 21 anos, vivendo atualmente em Londres.
Hipóteses para as eleições legislativas de 18 de maio, formuladas por ordem decrescente de convicção:
1. Continua a existir uma maioria parlamentar de direita.
2. O ADN entra na Assembleia da República ao eleger Bruno Fialho e/ou Joana Amaral Dias.
3. O Livre ultrapassa a CDU e o Bloco de Esquerda.
4. Nos cartazes da Iniciativa Liberal, Rui Rocha surge ao lado de slogans tão originais como “Por Portugal” e “As Pessoas Primeiro”.
5. Todos os partidos se queixam da comunicação social dando como exemplo a atitude de João Adelino Faria nos debates e entrevistas, sem compreenderem que o jornalista da RTP é chato de nascença.
6. Jornalistas e comentadores falam obsessivamente dos indecisos nas últimas duas semanas de campanha.
7. Na véspera das eleições, o Benfica/o Sporting garante matematicamente o título de campeão, razão pela qual muitos indivíduos ficam demasiado ressacados para votarem.
8. Sebastião Bugalho acusa Pedro Nuno Santos de ser “leninista”, Rui Tavares de ser “trotskista”, Mariana Mortágua de ser uma “terrorista” e José Pacheco Pereira de ter apoiado Pol Pot.
9. Os media não descobrem mais nada de substancial sobre Luís Montenegro, o público cansa-se e acontece algo que transforma a imigração no principal tema da campanha.
10. Paulo Raimundo recorre nos seus discursos às mesmas frases batidas de sempre, enquanto nas redes sociais outros militantes do PCP utilizam as palavras “nazi” (Ursula), “palhaço” (Zelensky), “trafulhas” e “bandalheira”.
11. O Chega tem mais votos que a AD nos concelhos de Loures, Amadora e Odivelas, ficando a menos de 2% da coligação no total do distrito de Lisboa.
12. O grupo parlamentar do Chega encolhe de 50 para 43 deputados.
13. O PSD, perdão, a AD obtém o seu pior resultado de sempre e Luís Montenegro é encostado à parede durante horas.
14. O PSD, perdão, a AD obtém uma vitória folgada e Luís Montenegro é profusamente elogiado pela sua “jogada brilhante”.
15. Inês Sousa Real falha a eleição e o PAN, na prática, desaparece.
16. Pedro Nuno Santos repete o segundo lugar mas continua a liderar o PS.
17. O Ministério Público formula uma acusação contra Luís Montenegro, mas este não fica preocupado porque, inspirando-se na sua série favorita, possui um carro laranja mais veloz que qualquer viatura policial e capaz de dar grandes saltos aterrando sem sofrer um único risco.
18. Nas comemorações do 25 de Abril, o tema “A Luta É Alegria” volta a ser um êxito, para surpresa do próprio Jel.
19. Durante a campanha, Sérgio Sousa Pinto diz qualquer coisa de esquerda.
20. O PEV abandona a CDU e concorre sozinho, alcançando o dobro da votação do PCP.
Afonso, D. Maria(1302?-1320).Filha bastarda de D. Dinis, viveu no mosteiro fundado pelo pai em Odivelas (ignora-se se chegou a tornar-se freira), onde mandou construir um altar em honra de Deus e Santo André, faleceu precocemente e foi sepultada. Os numerosos mistérios que envolvem a vida e morte de D. Maria Afonso inspiraram Patrícia Müller na escrita do romance e da série televisiva A Rainha e a Bastarda.
Brás, Manuel Duarte (1932-1993). Trabalhou como pastor e talhante e ganhou vários prémios pela sua inspiração de poeta popular. A poesia de Brás foi reunida no livro Janelas Abertas (1990), marcado por memórias do passado de Odivelas, cidade que homenageou o autor dando o seu nome a uma rua da Arroja.
Bravo, António Maria (1817-1880). Nasceu no Barreiro, filho de um empresário dos transportes marítimos com o mesmo nome que comprou em 1849 a chamada Quinta do Espanhol, em Odivelas, onde o palacete situado na futura Rua Alexandre Braga servia de casa de férias para a família Bravo. Herdeiro da propriedade após a morte do pai, António Maria Bravo criou a primeira escola primária na aldeia e participou em 1863 na fundação da Sociedade Musical Odivelense, cujos instrumentos pagou. Apesar dos Bravo terem vendido a quinta depois de 1880, o nome de António Maria ficaria eternizado na biblioteca da SMO e numa das ruas mais antigas de Odivelas.
Coelho, Jorge(1977-). Morador na Codivel, estudou Artes Gráficas e Comunicação na Escola Artística António Arroio (Lisboa). É ilustrador e autor de BD, com trabalhos publicados em editoras americanas como a Marvel, a Image Comics, a Boom Studios ou a Clover Press. Como desenhador do álbum O Grande Gatsby, ganhou o prémio para Melhor Banda Desenhada de Autor Português no festival Amadora BD de 2024.
Duarte, Nuno (1974-). Depois de passar a infância e adolescência em Odivelas, Nuno Ricardo Rodrigues Duarte teve vários empregos até se afirmar como músico e humorista, sob o nome artístico Jel ou Tio Jel. Com o irmão, Vasco Duarte, formou o grupo Homens da Luta, vencedor do Festival RTP da Canção de 2011. Participou em programas de televisão como A Revolta dos Pastéis de Nata, Vai Tudo Abaixo, Como Isto Anda ou Bairro do Humor. Atuou em 2023 nas Festas da Cidade de Odivelas.
Jorge, Torcato (1891-1972). Também conhecido por Torquato Jorge, era proprietário de moinhos. Abriu em Odivelas uma grande loja, dedicada à venda de diversas mercadorias e situada num edifício em frente da atual Biblioteca Municipal D. Dinis. Casou por três vezes e foi um dos primeiros odivelenses a possuir um telefone em sua casa.
Kutchy (2002-). Edmilson Camala Sá ("Kutchy") cresceu no bairro da Arroja, tendo começado a jogar futsal na Associação da Arroja antes de prosseguir nos escalões de formação de Sporting e Benfica. Jogador da equipa sénior das "águias" desde 2023, integrou a seleção portuguesa que disputou o Mundial de futsal de 2024.
Lopes, Augusto Abreu (1894-1981). Licenciou-se em 1917 na Escola de Medicina Veterinária, estabelecimento do qual seria secretário-geral e diretor. Criador de animais em cujo corpo recolhia material para vacinas contra o tétano, Abreu Lopes comprou várias propriedades agrícolas, entre elas a Quinta da Ponte, no Olival Basto, e a Quinta de Nossa Senhora do Monte Carmo, em Odivelas. Parte dos terrenos desta última, conhecida por “Quinta do Mendes”, foi cedida pelo novo dono à Câmara de Loures para urbanização, sendo o nome do veterinário atribuído à avenida então surgida.
Mateus, Fernanda (1959-). A operária têxtil Maria Fernanda Santos Cardoso Mateus ingressou em 1976 no PCP, do qual se tornou funcionária em 1979. Faz parte da Comissão Política do Comité Central do partido desde 1996. Candidatou-se em 1993 à presidência da Junta de Freguesia de Odivelas, encabeçando vinte anos mais tarde a lista da CDU à Câmara odivelense.
Ribeiro, Henrique (1958-). Ator amador e operário químico, o pontinhense Henrique Manuel Couto Ribeiro integrou listas do PCTP/MRPP às eleições legislativas de 1980 e às autárquicas intercalares de 1981. Seguiu a carreira de jornalista, escrevendo para periódicos como Jornal da Pontinha, Gira Loures, Vento Novo, Nova Odivelas, Odivelas Notícias e Diário de Odivelas, vários dos quais dirigidos por Ribeiro.
Santos, João Viegas dos (1941-). Natural de Santiago (Tavira), aderiu ao PCP, tendo estado detido por motivos políticos entre junho de 1967 e dezembro de 1968. Vivia numa cave da Rua Serpa Pinto, em Odivelas, quando na manhã de 22 de junho de 1971 agentes da PIDE/DGS bateram à porta da sua casa. Viegas conseguiu fugir para a rua, onde foi perseguido por dois “pides” armados enquanto descia para a Avenida Augusto Abreu Lopes. Aos gritos, os agentes identificaram-no como um ladrão, obtendo assim a colaboração na sua captura por parte das pessoas que esperavam o autocarro na entrada da futura cidade. O PCP faria em seguida várias pichagens para repor a verdade e exigir a libertação de Viegas. Depois de uma condenação a 5 anos de prisão, João Viegas seria libertado do Forte de Peniche graças ao 25 de Abril. Regressou a Odivelas, onde seria professor na escola secundária entre 1983 e 2003.
Santos, Maria Gomes da Silva (1907-1986). Viveu a partir de 1913 em Odivelas, onde casou em 1927 com Marcelino Francisco dos Santos. Escreveu, encenou e interpretou numerosos espetáculos na Sociedade Musical Odivelense. Enfermeira de profissão, prestou forte apoio à população local, que a conhecia por "anjo branco" ou "menina Maria". Entre 1946 e 1967, residiu com a família em Moçambique e aí prosseguiu o trabalho social, reconhecido pela Cruz Vermelha com uma Medalha de Agradecimento. Regressou depois a Odivelas, onde o seu nome fora atribuído à rua da sede da SMO.
Vintém, António Bento (1945-2013). Natural de Coruche, foi preso pela PIDE em 1967, passando 19 meses na cadeia de Caxias. Depois de ser libertado, viveu em Itália, onde se iniciou na atividade editorial. Ao regressar a Portugal em 1974, fixou-se na Póvoa de Santo Adrião e aí criou a livraria Outubro e o jornal de extrema-esquerda O Proletário Vermelho (1974-1977). No início da década de 1980, fundou a editora e distribuidora Europress, ainda hoje ativa.
P.S. Uma fonte fundamental para a elaboração de várias destas notas biográficas foi o livro de Manuela Ferreira Toponímia da Freguesia de Odivelas (Edições Pedago/Junta de Freguesia de Odivelas, 2005). Como a própria obra previa, ela já se encontra desatualizada em resultado do crescimento da cidade e da criação de novos arruamentos nos últimos 20 anos. A Junta de Odivelas faria bem em promover uma reedição do livro ou, em alternativa, criar um espaço online com informação disponível sobre as pessoas homenageadas nas placas toponímicas, perfeitos desconhecidos para boa parte da população da freguesia.
Braga, David (1974-). Treinador de futsal, promoveu a modalidade no Póvoa de Santo Adrião Atlético Clube, de que foi fundador e presidente, e no Grupo Desportivo dos Bons Dias. Tem feito jornalismo desportivo para meios como a AFL TV e os jornais Nova Odivelas, Odivelas Notícias e Diário de Odivelas. É militante do PSD e candidatou-se em 2017 à presidência da Junta de Olival Basto e Póvoa de Santo Adrião.
Carvalho, Hernâni (1960-). Hernâni Manuel Marques de Carvalho foi um dos fundadores do Ginásio Clube de Odivelas, presidiu à JSD-Odivelas e integrou o Movimento Odivelas a Concelho. Iniciou nos media locais uma carreira jornalística que o levaria à RTP e à SIC, onde apresentou programas como Linha Aberta. É doutorado em Psicologia pela Universidade da Extremadura e autor do romance Azul Suai e de vários livros de não-ficção. Em 2009, ficou em segundo lugar na corrida à presidência da Câmara de Odivelas.
Carvalho, José (1932-2023). Com apenas 13 anos, José Fernando dos Reis Carvalho (“Zé Teso”) participou na fundação definitiva do Odivelas Futebol Clube, integrando os primeiros órgãos sociais da coletividade, eleitos em 1954. Muitos sócios do OFC conheceram-no como cobrador de quotas, função que desempenhou durante mais de 35 anos.
Costa, Arlindo (1944-). Ainda criança, fez parte do Hóquei Clube dos Pombais, uma equipa de hóquei em campo. Trabalhou como eletricista de elevadores e foi membro da Assembleia de Freguesia de Odivelas. Poeta e cronista, colaborou com o jornal Odivelas Notícias e publicou os livros No Tempo da Ramona (2018) e Ao Correr Destas Águas (2024).
Costa, Mateus Gregório Rodrigues da (?-1930). Mateus Gregório da Costa participou em 1897 na fundação dos Bombeiros Voluntários de Odivelas, cujo comando assumiria até 1930, além de ter sido presidente da mesa da assembleia-geral da corporação (1924-1930). Foi eleito membro da Junta de Freguesia de Odivelas em 1925, ano em que a Câmara de Loures o nomeou inspetor-geral do Serviço de Incêndios do concelho. Integrou a direção da Sociedade Musical Odivelense e foi correspondente do diário O Século. Deixou de ser comandante dos BVO em abril de 1930 por razões de saúde, mas, em 19 de outubro desse ano, faleceu ao socorrer uma criança em risco de atropelamento. No funeral de Mateus da Costa, realizado em Lisboa, compareceram bombeiros de numerosas corporações dos arredores da capital.
Dias, Arnaldo (1931-).Empresário da construção civil, Arnaldo Dias participou na edificação de bairros como Arroja e Ribeirada, além de explorar o restaurante El-Rei D. Dinis. Apoiou financeiramente o Odivelas FC e várias instituições de solidariedade social. O nome de Dias foi atribuído a uma rotunda de Odivelas e ao estádio utilizado pelo OFC entre 1993 e 2013.
Ferrão, Fernando (1959-).Fernando Manuel Simões Piedade Ferrão iniciou-se como ator na Sociedade Musical Odivelense, frequentando mais tarde um curso de representação no Centro Cultural de Benfica. A partir da década de 80, desempenhou numerosos papéis no teatro e na televisão, celebrizando-se pela participação na série humorística Os Malucos do Riso, e fez dobragens de vários filmes de animação.
Ferreira, José. Nascido em Odivelas, José Rosalino Ferreira iniciou-se no ciclismo em 1938, representou na década de 1940 equipas como Picheleira, Sangalhos, Iluminante, Sporting ou Belenenses e ganhou várias provas regionais e nacionais. Foi também dirigente do Odivelas FC, dos Bombeiros Voluntários de Odivelas e da Sociedade Musical Odivelense.
Francisco, Honório (1929-1986). Sobrinho do ciclista João Francisco, Honório Simões Francisco viveu nos Pombais e, além de funcionário dos TLP, foi praticante, treinador e dirigente de ciclismo. Honório destacou-se como ciclista do Benfica em 1954 e 1955, ano em que venceu a Volta a Lisboa. Ganhou a Volta a Portugal de 1977 como treinador da equipa do Lousa, vindo a ser secretário da Federação Portuguesa de Ciclismo em 1980 e 1985. Faleceu num acidente de viação na Calçada de Carriche em 20 de agosto de 1986, tendo o seu nome sido atribuído ao polidesportivo da Codivel.
Francisco, João. Natural da Póvoa da Galega e motorista de profissão, João Francisco residia em Odivelas quando se tornou um dos ciclistas portugueses mais populares nas décadas de 20 e 30 do século XX. Venceu as corridas Porto-Lisboa de 1927, 1928 e 1933, tendo representado emblemas como o Belenenses e o Clube Atlético de Campo de Ourique (CACO). Em 5 de dezembro de 1931, foi homenageado com uma festa na sede da Sociedade Musical Odivelense.
Gonçalves, Alberto Pereira (1892-1971). Professor do ensino primário, trabalhou na escola para rapazes de Odivelas entre 1931 e 1957. Lecionou também cursos noturnos para adultos e colaborou em várias iniciativas com as associações odivelenses. Na década de 1990, um grupo de ex-alunos, juntamente com a Sociedade Musical Odivelense, promoveu a instalação no Largo D. Dinis de um busto do professor, homenageado ainda com uma placa toponímica.
Moreira, José (1939-2022). O bancário José Manuel da Silva Moreira assumiu a presidência do Odivelas FC entre 1996 e 1998, depois de uma década como presidente-adjunto do clube. Foi também dirigente do Niagara, membro da Assembleia de Freguesia de Odivelas e presidente da Comissão Instaladora da Junta de Freguesia de Famões. Nas autárquicas de 2005, foi o candidato da CDU à presidência da Junta de Odivelas.
Ramos, Jorge Leitão (1952-).Nascido em Odivelas, Jorge Leitão Ramos licenciou-se em Engenharia Eletrotécnica pelo Instituto Superior Técnico. Escreveu críticas de cinema e televisão para os periódicos Jornal Novo, Diário de Lisboa e Expresso. É autor de vários livros, entre eles o Dicionário do Cinema Português (em três volumes), e mantém a base de dados Memoriale.
Santos, Natália (1958-2024).Moradora em Odivelas desde os 6 anos, Natália Santos trabalhou na EDP, na Carris e em diversas escolas do concelho odivelense. Foi vogal da Comissão Instaladora do Município de Odivelas, com a tutela da saúde, candidata da CDU à presidência da Câmara em 2001 e vereadora em diferentes períodos. Participou em várias entidades associativas, como o Movimento Mais Saúde.
Vaz, Maria Máxima (1937-). Antiga professora do ensino básico e doutorada em História Contemporânea pela FCSH-UNL, é especialista na história local de Odivelas. Escreveu livros como O Concelho de Odivelas: Memórias de um Povo (2001), Memórias de Olival Basto (2009) e Por Terras de El Rei D. Dinis (2016), para além de numerosos artigos na imprensa. Uma rua e uma escola de Odivelas apresentam o nome de Maria Máxima Vaz.