O objectivo é escolher os dez melhores temas musicais criados para os genéricos de programas da televisão portuguesa. O facto de se tratar aqui de canções originais põe de parte todas as telenovelas nomeadas a partir de êxitos de Paulo Gonzo e outros artistas, assim como a presença nos créditos iniciais exclui composições como "É Tão Bom" (Sérgio Godinho/Jorge Constante Pereira), que fez parte da banda sonora da série da RTP "Os Amigos do Gaspar" sem surgir no respectivo genérico. A selecção e ordenação das músicas dependem de critérios totalmente subjectivos.
10. "Governo Sombra"/"Programa Cujo Nome..." (instrumental), SIC Notícias, 2020-
9. "Polícias" (instrumental de António Victorino de Almeida), RTP, 1996-1997
8. "Melhor do que Falecer" (Camané), TVI, 2014
7. "Zé Gato" (Pedro Brito), RTP, 1979-1980
6. "Casino Royal" (Herman José), RTP, 1990
5. "Zip-Zip" (instrumental do Quarteto 1111), RTP, 1969
4. "Pôr do Sol" (Toy), RTP, 2021-
3. "1986" (João Só, Catarina Salinas e Lena d'Água), RTP, 2018
2. "Arca de Noé" (Carlos Alberto Moniz), RTP, 1990-1995
Actualmente, plataformas digitais como o You Tube, o Instagram ou o Facebook são locais privilegiados de partilha de memórias individuais e colectivas através de vídeos, textos ou fotografias. As redes sociais facilitam a criação de grupos de indivíduos com vivências ou preferências comuns onde é frequente a reprodução de fontes que documentam eventos passados aos quais os utilizadores possuem uma ligação afetiva. Esses documentos e os comentários que originam produzem um vasto conjunto de informação sobre os mais variados temas. Os conteúdos digitalizados e os testemunhos que representam possuem grande valor para a história local ao fornecerem dados sobre espaços, personalidades ou acontecimentos escassamente referidos nas fontes tradicionais.
Depois de descobrirmos o tema da história do desporto no território do actual município de Odivelas, reparámos na presença online de numerosas fontes úteis para o seu estudo. De facto, muitos vídeos e fotografias relativos à actividade desportiva em Odivelas encontram-se disponíveis quer em grupos do Facebook sobre o passado do concelho quer em páginas geridas por entidades como autarquias, colectividades e partidos políticos. No entanto, a natureza efémera e fragmentária das redes sociais dificulta o acesso e consulta desta documentação. Por esse motivo, procedemos a uma recolha de fontes ligadas ao tema em análise com vista a reunir num único site conteúdos dispersos pela Internet. A plataforma que usamos para divulgar os materiais recolhidos é um blogue chamado Desporto Odivelas. Cada entrada do blogue diz respeito a uma única fonte e apresenta um título com a descrição do documento, a fonte propriamente dita, a identificação da pessoa ou entidade que a publicou originalmente, a data exacta ou aproximada da produção do conteúdo e etiquetas que a associem a outras entradas com temas comuns como clubes, modalidades ou equipamentos. Se necessário, são acrescentadas informações sobre o documento e o contexto ao qual se refere. As etiquetas, o arquivo do blogue e uma ferramenta de pesquisa permitem a busca de entradas sobre assuntos específicos.
Trata-se, obviamente, de uma experiência sem a organização e cientificidade necessárias à criação de um verdadeiro acervo digital e com um carácter aleatório e incompleto. No entanto, acreditamos que pode ser uma tentativa útil de preservar documentos valiosos para a história local do desporto. Referimo-nos aqui, quase sempre, a desporto amador e por vezes não federado, desenvolvido em eventos e competições raramente noticiados em fontes como arquivos, imprensa ou bibliografia. Por exemplo, certas fotografias de antigas equipas do chamado “futebol popular” são alguns dos poucos vestígios existentes de clubes já desaparecidos. Nas redes sociais, os depoimentos de odivelenses com experiências comuns enquanto praticantes ou espectadores de desporto fornecem pormenores difíceis de conhecer por outras vias. Através das memórias individuais, poderemos compreender melhor as transformações vividas no território em questão durante o período contemporâneo.
Apesar do seu valor informativo, estes documentos também apresentam problemas associados à sua dispersão, fragmentação ou falta de enquadramento. Várias imagens são publicadas nas redes sem elementos que permitam a sua datação precisa ou a identificação dos indivíduos nelas representados. A nível cronológico, os materiais disponíveis apresentam grandes disparidades. Enquanto as fontes surgidas na primeira metade do século XX são raras, a abundância de conteúdos produzidos já no século XXI obriga a uma selecção. Existem ainda diferenças em qualidade e quantidade na informação relativa a clubes, freguesias, competições ou modalidades. A documentação recolhida não fala por si só, exigindo estudos posteriores que relacionem e contextualizem as fontes para esclarecer o seu significado.
Os meios tecnológicos atuais levaram a uma “explosão” da memória, permitindo a criação e divulgação de inúmeros conteúdos referentes ao passado dos utilizadores das redes sociais, quer como indivíduos quer como membros de diferentes comunidades. As possibilidades que as novas fontes digitais abrem à historiografia ainda não estão totalmente avaliadas, mas são já óbvias as suas vantagens e inconvenientes para o estudo de várias temáticas. No caso da história do desporto, podem ajudar a documentar a actividade dos clubes mais pequenos, tal como a crescente prática informal de modalidades como o futebol, a natação e o atletismo, entre outras. Haverá assim melhores condições para uma abordagem que vá além dos grandes clubes e das celebridades da alta competição e esclareça os contextos locais da democratização da prática desportiva. Para tal, serão necessários o levantamento e inventariação dos documentos disponíveis online, seguindo-se o cruzamento dessa informação com os dados das fontes impressas. A investigação posterior terá de combinar elementos bastante heterogéneos no sentido de aliar a narração dos acontecimentos à compreensão do efeito destes no quotidiano de atletas, dirigentes e outros agentes desportivos. Numa época em que a memória é para todos, a história tem de adaptar-se e contar aquilo que parecia irrelevante ou impossível de reconstituir.
Já depois do nascimento dos filhos do seu segundo casamento, Maria e Manuel, Rui Veloso lançou em 1995 o álbum Lado Lunar, o primeiro gravado no estúdio criado por Veloso em Vale de Lobos (Sintra) e misturado em Londres sob a orientação do produtor Luís Jardim. Além do tema-título, o CD reuniu faixas como “Benvinda Sejas Maria”, “Já Não Há Canções de Amor” ou “Fado Pessoano”, canção dedicada a Tom Jobim. No ano seguinte, Veloso juntou-se a Tim, João Gil, Vitorino e Jorge Palma no projecto Rio Grande, um “supergrupo” formado para interpretar canções da autoria de João Gil e João Monge em torno da história de um alentejano migrado para a Margem Sul. O público reagiu bem à iniciativa, concretizada no fonograma Rio Grande (quatro Discos de Platina) e em espectáculos com os cinco músicos registados no disco ao vivo Dia de Concerto (1997). Outras experiências de Rui Veloso nesta época passaram pela gravação com Carlos Tê e Sérgio Godinho do tema “Terra de Ninguém”, incluído no álbum colectivo Voz & Guitarra, e por uma versão de “Negras Como a Noite” criada para um disco de tributo aos Xutos & Pontapés, XX Anos XX Bandas.
Avenidas, o álbum gravado por Rui Veloso em Londres no Outono de 1998, apresentou, além de novos textos de Carlos Tê, duas letras da escritora Clara Pinto Correia (“Avenidas” e “Moby Dick”), num trabalho que destacou o amadurecimento do som de Veloso. As duas canções mais célebres de Avenidas, “Jura” e “Todo o Tempo do Mundo”, ganhariam presença destacada em duas produções televisivas, a série de 1999 da TVI Todo o Tempo do Mundo (com direcção musical de Rui Veloso) e a telenovela da SIC Jura, estreada em 2006. Tê e Veloso voltaram a compor para cinema com o single “Não Me Mintas”, reproduzido no filme Jaime (1999), de António-Pedro Vasconcelos. Em 2000, o programa comemorativo dos 20 anos de carreira de Rui Veloso incluiu o lançamento de uma compilação, O Melhor de Rui Veloso: 20 Anos Depois, galardoada com três Discos de Platina e que ajudou a divulgar o reportório mais antigo do cantor junto de uma nova geração de fãs, tal como de um disco de tributo no qual artistas portugueses e brasileiros interpretaram o alinhamento de Ar de Rock e três temas em inglês dos primórdios da parceria Tê/Veloso. Vários dos participantes no novo Ar de Rock, como Lúcia Moniz, Sara Tavares e os Xutos & Pontapés, foram convidados para actuar em Outubro e Novembro desse ano nos concertos no Pavilhão Atlântico (Lisboa) e no Coliseu do Porto onde Rui celebrou duas décadas de percurso artístico que o tinham tornado um dos mais consensuais músicos portugueses.
Os membros dos Rio Grande, à excepção de Vitorino, reuniram-se novamente em 2002 para gravar o álbum Cabeças no Ar, surgido de um conjunto de letras de Carlos Tê sobre o universo de uma escola secundária num bairro suburbano. Posteriormente à edição do disco, o musical de Tê com o mesmo nome, do qual fizeram parte quatro temas com música de Rui Veloso (“Pequena Dor”, “Primeiro Beijo”, “A Explicação das Estrelas” e “Orlando de Vez em Quando”), foi encenado no Teatro São Luís, em Lisboa, entre Janeiro e Fevereiro de 2005. Entretanto, Rui prosseguia os seus espectáculos, optando em 2002 e 2003 por um formato acústico, interpretado em salas como o Coliseu do Porto e o Centro Cultural de Belém e gravado para edição em CD e DVD. O alinhamento de O Concerto Acústico revelou versões despojadas dos grandes êxitos de Veloso e dois inéditos, “Os Velhos do Jardim” e “Nunca Me Esqueci de Ti”, este último com letra de João Monge. Num registo diferente, Rui Veloso actuou perante uma multidão imensa na estreia em 2004 do Rock in Rio Lisboa, festival a que regressaria nas edições de 2006, 2010, 2012 e 2014. Fora dos palcos, Veloso criou em 2005 a sua própria editora discográfica, a Maria Records, dedicada ao lançamento de trabalhos de novos valores como os Azeitonas e Jorge Vadio.
A seguir ao intervalo de sete anos vivido depois de Avenidas, Rui Veloso concebeu juntamente com Carlos Tê as faixas do seu nono álbum de originais, A Espuma das Canções, gravado em Vale de Lobos e comercializado no final de 2005. O CD contou com a colaboração da Orquestra Sinfonietta de Lisboa e dos artistas Nancy Vieira (em dueto com Rui no tema “Canção de Alterne”), Sara Tavares e Bernardo Sassetti, envolvidos num todo repartido por géneros tão variados como blues, valsa, samba ou bolero. Saudado pela crítica como o regresso de Veloso aos grandes momentos, A Espuma das Canções deu impulso às celebrações dos 25 anos de carreira de um músico que atingira já a marca de um milhão de discos vendidos desde 1980. O livro Rui Veloso, Os Vês Pelos Bês (2006), escrito pela jornalista Ana Mesquita com base em entrevistas ao biografado e a pessoas dele próximas, bem como no acervo de recortes de imprensa compilado por Emília Veloso, resumiu as etapas do percurso do compositor portuense. “Os Vês Pelos Bês” foi também o nome do espectáculo apresentado por Rui Veloso no Porto e em Lisboa no mês de Novembro de 2006, com a participação de Mariza, Jorge Vadio, Rio Grande e Luz Casal, a cantora espanhola para a qual Veloso escreveu a música de “Inesperadamente”. Uma gravação da actuação lisboeta seria lançada em 2009 nos formatos CD e DVD, com o título Rui Veloso Ao Vivo no Pavilhão Atlântico. Em Dezembro de 2007, foi editado um Song Book com as letras e pautas musicais de 27 canções de Veloso. Já em 2010, a pretexto dos seus 30 anos de música, Rui esgotaria os Coliseus da capital e da Invicta.
Depois de muitos anos de contínua exposição mediática, Rui Veloso assumiu um registo mais discreto na segunda década do século XXI, dedicando-se sobretudo a numerosas parcerias com outros músicos. Rui atraiu a Vale de Lobos um vasto conjunto de artistas para gravar novas versões de alguns dos seus temas, com o cuidado de evitar um alinhamento centrado nos maiores sucessos, criando o álbum Rui Veloso e Amigos (2012), um símbolo do contacto com vários géneros estabelecido por um músico para quem “a compartimentação é pura e simplesmente uma idiotice” (Notícias Magazine, 30-10-2015). Veloso foi também convidado para cantar com músicos mais jovens influenciados pela sua obra, como os Per7ume, Miguel Araújo e Carolina Deslandes. Numa fase de algum desânimo, agravado pela situação negativa do país, Rui Veloso anunciou em Agosto de 2014 uma interrupção da sua actividade musical, tranquilizando pouco depois os seguidores ao garantir que a pausa seria temporária. De facto, o cantor regressou em 6 de Novembro de 2015 ao antigo Pavilhão Atlântico, agora designado por Meo Arena, para protagonizar um concerto com Mariza e o músico António Serrano como convidados. Os 35 anos de carreira de Rui foram assinalados pela edição do duplo álbum O Melhor de Rui Veloso, uma compilação onde surgiram dois novos temas, “Romeu e Juliana”, da autoria de João Gil e João Monge, e “Do Meu País”, baseado num texto do poeta moçambicano Eduardo Costly-White. Nos anos seguintes, Veloso actuaria noutros recintos das principais cidades portuguesas, entre eles o Campo Pequeno (Lisboa) e o Pavilhão Rosa Mota (Porto). Um momento especial para Rui Veloso foi a participação em 3 de Julho de 2015 na cerimónia de trasladação dos restos mortais de Eusébio (um dos seus maiores ídolos, juntamente com o piloto Ayrton Senna) para o Panteão Nacional, durante a qual interpretou “África” e “Nunca Me Esqueci de Ti”.
A partir do sucesso de Ar de Rock em 1980, a imprensa atribuiu a Rui Veloso o epíteto de “pai do rock português”. O cantor começou por rejeitar essa designação, antes de assumir, num prefácio ao livro Bíblia dos Anos 80 (2010), de João Pedro Bandeira, “uma parte da “paternidade””, na medida em que o êxito do seu primeiro álbum mudou a atitude dos media, do público e das editoras perante a música portuguesa, levando à profusão súbita de artistas da área do pop/rock, alguns dos quais não resistiram ao fim do boom. No entanto, Rui Veloso permaneceu e, apesar de duvidar frequentemente da qualidade do seu trabalho (“Para se chegar onde eu cheguei, uma pessoa tem sempre que desconfiar daquilo que faz”, diria ao Blitz em Novembro de 2014), manteve ao longo de décadas um estatuto raro no meio musical português. Gorada a internacionalização da sua carreira, devido a um misto de falta de oportunidades e de interesse do artista, Veloso ocupou um lugar no coração dos portugueses graças à qualidade artística e ao perfeccionismo da sua obra, tal como à riqueza vocabular e emocional dos textos de Carlos Tê e outros letristas, mas também devido à imagem de “anti-estrela” de Rui, sempre espontâneo e despretensioso na relação com o público. Mais do que como o “pai do rock” luso, os fãs encaram Rui Veloso como um homem comum, transformado na voz de temas que contam histórias da vida quotidiana em Portugal, numa permanente abertura a influências musicais de outros países. Após 41 anos de carreira e muitas canções intemporais, Rui Veloso já possui um lugar de destaque na história da música portuguesa.
Rui Manuel Gaudêncio Veloso nasceu em Lisboa em 30 de Julho de 1957, três meses antes de se mudar com os pais para a cidade do Porto. O seu pai, Aureliano Veloso, foi eleito em 1976 para o cargo de presidente da Câmara do Porto, que exerceu até 1979, enquanto o brigadeiro António Pires Veloso, tio de Rui, comandou a Região Militar do Norte entre Setembro de 1975 e Novembro de 1977. Influenciado pelo avô e pelo pai, guitarristas amadores, Rui Veloso demonstrou desde cedo interesse pela música, aprendendo a tocar instrumentos como piano, guitarra e harmónica, de forma autodidacta e baseada na audição da obra de músicos ligados sobretudo ao rock e aos blues. A partir de 1975, integrou as bandas Contra Ponto e Magara Blues Band, que fizeram algumas actuações em festas. Devido à dificuldade em obter discos e instrumentos, os jovens portuenses costumavam então juntar-se para ouvir e tocar música em conjunto, estabelecendo um círculo de relações no âmbito do qual Rui Veloso se tornou amigo do poeta Carlos Monteiro, mais conhecido por Carlos Tê. Carlos escreveu várias letras em inglês, a partir das quais Rui criou temas originais, tocados em longas sessões na cave da casa da família Veloso e aí gravados em cassetes.
Uma das histórias mais célebres da música portuguesa relata o dia de 1979 em que a mãe de Rui, Emília Veloso, partiu para Lisboa levando, às escondidas do filho, gravações de várias canções deste, com o objectivo de as submeter à avaliação da editora Valentim de Carvalho. Um dos responsáveis da VC, António Avelar Pinho, ouviu as composições da dupla Tê/Veloso, interessando-se especialmente pelo único tema em língua portuguesa, intitulado “Chico Fininho”. A Valentim de Carvalho chegaria a acordo com Rui Veloso para a gravação de um LP, cujas letras deveriam ser todas em português, uma exigência cumprida a contragosto por Carlos Tê, autor de oito textos a que se juntaram mais duas letras de António Pinho. O álbum Ar de Rock seria gravado em Abril de 1980 por Veloso e pela Banda Sonora, formada pelo baixista Zé Nabo e pelo baterista Ramón Galarza. No LP posto à venda em Julho desse ano, Veloso revelou um estilo inédito em Portugal de tocar e cantar, influenciado pelos bluesmen americanos, enquanto a escrita de Tê apresentou inovações quer nas temáticas quer no vocabulário utilizado. Várias das canções descreviam personagens-tipo do Porto, num retrato social que Rui Veloso afirmava ser apenas “a constatação de uma realidade” (A Rua, 31-07-1980), rejeitando aproveitamentos políticos. Ar de Rock (galardoado com um Disco de Ouro) e os dois singles dele extraídos, “Chico Fininho” e “Rapariguinha do Shopping”, conheceram um êxito comercial surpreendente que abriu caminho a outros músicos nacionais. Ainda em 1980, Veloso realizou as suas primeiras actuações a solo, algumas delas tão marcantes como a abertura do espectáculo dos The Police em Lisboa, a 2 de Setembro, ou o concerto inaugural da sala do Rock Rendez-Vous, em Dezembro desse ano. Rui mudou-se para a capital e enfrentou dificuldades em lidar com a fama repentina, numa inadaptação que teve manifestações físicas como vómitos sentidos antes do músico subir ao palco e vários problemas de voz.
Casado desde 1981, ano no qual lançou o single “Um Café e um Bagaço”, Rui Veloso viu 1982 ser marcado pelo nascimento da sua primeira filha, Joana, e pela gravação do LP Fora de Moda. Neste trabalho, onde repetiu a parceria com Carlos Tê que se prolongaria durante as décadas seguintes, Veloso procurou ir além do rótulo de “Estrela de Rock and Roll” (título de uma das canções do disco) ao qual fora associado, mostrando a sua versatilidade musical num esforço prosseguido em Guardador de Margens (1983). Ambos os álbuns venderam menos cópias que Ar de Rock, mas reforçaram o estatuto do músico portuense junto da crítica. Entretanto, depois do tema “Chico Fininho” ter dado origem a um filme de Sério Fernandes com o mesmo nome estreado em 1982, Rui Veloso participou na banda sonora de Crónica dos Bons Malandros (1984), de Fernando Lopes, com dois originais, “Blue do Aljube” e “Rock dos Bons Malandros”. No início de 1986, Veloso interpretou “Rock da Liberdade”, uma canção com letra de António-Pedro Vasconcelos que serviu de hino de campanha da candidatura vitoriosa de Mário Soares às eleições presidenciais desse ano.
A conclusão do quarto álbum de originais de Rui Veloso teve de ser adiada devido a problemas do artista como o seu divórcio, dificuldades financeiras ou a operação às cordas vocais a que foi submetido. Em Dezembro de 1986, surgiu nas lojas o LP para o qual Tê e Veloso escolheram o título Os Vês Pelos Bês, mas a que a Valentim de Carvalho preferiu chamar simplesmente Rui Veloso (numa reedição em CD de 2010, o álbum passou a ter o nome original). Entre os êxitos saídos do disco, destacaram-se dois temas muito populares. “Porto Côvo” reforçou a notoriedade da povoação alentejana e contribuiu para o desenvolvimento turístico daquela freguesia do concelho de Sines, que homenagearia em 2011 Rui Veloso e Carlos Tê atribuindo os seus nomes a ruas da localidade. Por seu turno, “Porto Sentido” tornou-se o hino oficioso da cidade do Porto, tendo a canção surgido como destinada ao fadista Carlos do Carmo, antes da música de Rui lhe dar um toque de morna e blues que convenceu Tê a colocá-la na voz do amigo. O sucesso comercial de Rui Veloso, traduzido na distinção de Disco de Platina, garantiu ao músico uma estabilidade profissional inédita e deu origem a uma digressão marcada pelos primeiros concertos de Veloso nos Coliseus de Lisboa e Porto, ocorridos entre Maio e Junho de 1987. A actuação na sala portuense ficou registada no duplo álbum Rui Veloso ao Vivo (1988), também platinado, onde o cantor revisitou Ar de Rock e os seus sucessores, passando pelo inédito “Fado do Ladrão Enamorado”, sob os aplausos de um público entusiasta. A relação especial entre Rui e a Invicta foi realçada em 1988 pela Câmara portuense ao atribuir ao guitarrista a Medalha de Mérito da Cidade do Porto – Grau Prata.
Em Março de 1990, Rui Veloso viu um sonho tornar-se realidade ao tocar com BB King nos quatro concertos que o mestre dos blues deu então em Portugal, numa experiência que se repetiria em 1996 e 1998. Durante o primeiro semestre de 1990, Veloso trabalhou nas gravações de um projecto que desenvolvera com Carlos Tê ao longo de quase uma década, o álbum conceptual Mingos & Os Samurais, baseado na história de uma banda fictícia do início dos anos 70. Composto por 22 faixas repartidas por dois discos, o álbum incluiu músicas que conquistaram as rádios nacionais como “O Prometido É Devido”, “Um Trolha d’Areosa”, “Não Há Estrelas no Céu” ou “A Paixão (Segundo Nicolau da Viola)”. A partir do lançamento em Agosto de 1990, Mingos & Os Samurais explodiu no mercado e atingiu a marca inédita de sete Discos de Platina, correspondentes a 280 mil cópias vendidas. O sucesso reflectiu-se também nos concertos efectuados nesse ano por Rui Veloso em salas apinhadas de Lisboa, Porto, Cascais, Amadora e outras cidades. Já em 1991, Rui fez vários espectáculos junto das comunidades portuguesas nos EUA e no Canadá e, em Julho, tocou para cerca de 50 mil pessoas na primeira parte do concerto de Paul Simon no Estádio José Alvalade. Pelo meio, participou na banda sonora da série televisiva da RTP Claxon, com o tema “Rastos de Azul” (António Avelar Pinho/Rui Veloso).
Enquanto Mingos & Os Samurais ainda dominava os tops, Carlos Tê e Rui Veloso voltaram ao estúdio de Paço de Arcos para gravar uma encomenda da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, o duplo álbum Auto da Pimenta, centrado numa perspectiva da Expansão lusa a partir das experiências dos indivíduos comuns que nela participaram, traduzidas em composições como “Nativa”, “À Sombra da Tamareira” ou “Logo que Passe a Monção”. Apesar de ter alcançado dois Discos de Platina após ser posto à venda em Dezembro de 1991, Auto da Pimenta, o último trabalho de Veloso editado em vinil, não recebeu a divulgação prometida pela Comissão. Em Junho de 1992, Rui Veloso foi agraciado por Mário Soares com o título de cavaleiro da Ordem do Infante D. Henrique (o músico seria elevado ao grau de comendador em 2006, já com Jorge Sampaio na Presidência da República). Nesse ano, Veloso gravou o single “Maubere”, um tema de solidariedade com a causa de Timor-Leste no qual colaboraram artistas como Rão Kyao, Carlos Paredes e Nuno Bettencourt. Igualmente no âmbito do apoio ao futuro país asiático, Rui Veloso actuou no espectáculo colectivo “Timor Livre”, levado à cena no Centro Cultural de Belém em 12 de Novembro de 1994.