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Desumidificador

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Aí vamos nós outra vez (2)

7) Pouca gente repara, mas é possível saber no portal do Recenseamento Eleitoral a freguesia na qual se encontra registado qualquer eleitor português, bastando para tal conhecer o nome completo e a data de nascimento da pessoa em causa. Assim, com a ajuda da Wikipedia, conseguimos descobrir onde as celebridades depositam o seu voto na urna. Por exemplo, a atriz Rita Pereira continua recenseada em Carcavelos, a sua terra de origem. Se tiver muito tempo livre, pode passar horas nesta divertida pesquisa.

 

8) A estatística (considerada exagerada por alguns comentadores) segundo a qual o número de imigrantes em Portugal quadruplicou entre 2017 e 2024 põe-nos a pensar naquilo que não aconteceu, à semelhança do êxodo dos “retornados” ocorrido na década de 70. Se uma mudança demográfica tão rápida e profunda afetou o país sem causar mais conflitos e problemas do que os conhecidos, então a integração dos novos habitantes foi um sucesso maior do que se imaginava, provando que a nossa economia desenvolveu nos últimos anos uma forte capacidade de criar emprego, ainda que talvez não nos setores mais aconselháveis. Claro que a chegada de tanta gente a um ritmo tão veloz gerou inevitáveis tensões xenófobas, politicamente aproveitadas pelo Chega e, depois de se compreender o valor do filão, por políticos “moderados” e responsáveis do centro-direita como Durão Barroso, sempre preocupado com a falta de atenção das “elites” europeias à vontade do “povo”. Na verdade, o tema da imigração é valorizado por poucos eleitores, mas quem se preocupa com esse assunto torna-se quase obcecado. De pouco serve relembrar as vantagens económicas e demográficas da vinda de estrangeiros em idade fértil a quem, numa reação compreensível mas não necessariamente correta, apenas quer que o tempo volte (ou vote?) para trás.

 

9) As eleições legislativas portuguesas costumam ser muito paroquiais, ignorando-se durante as campanhas os eventos em curso no resto do mundo. Deste modo, tudo é possível e qualquer proposta é realizável até que, no dia a seguir ao sufrágio, se descobre com estupefação que há um contexto internacional a influenciar-nos. No caso das eleições de 2025, a apreensão generalizada com os efeitos das “trumpalhadas” diárias impossibilita essa atitude de alheamento, mas os acontecimentos globais dificilmente inspirarão as opções de voto. Os eleitores que o PCP perdeu por causa da Ucrânia já renegaram a foice e o martelo há muito tempo e nada mudou desde então. O genocídio em Gaza, para lá da questão de reconhecer ou não o estado da Palestina (demasiado rebuscada para ser posta pelos jornalistas aos líderes partidários), não gera grandes divisões, dado que a violência israelita, tradicionalmente criticada pela esquerda, atingiu proporções suficientes para remeter a direita a um silêncio embaraçado, à exceção do pessoal mais infantil ou lunático. Quanto ao rearmamento europeu, tornou-se bastante consensual, isolando PCP e Bloco no campo da “paz”. Curiosamente, esse tema poderá assumir maior destaque nas presidenciais devido à profissão e ao falconismo de Henrique Gouveia e Melo.

 

10) Jaime Nogueira Pinto costuma dizer, por outras palavras, que aquilo de que gosta no fascismo é que essa ideologia não pretende tornar o mundo melhor e simplesmente aceita a Humanidade como o dejeto sólido que é. De facto, urge compreender que o fascismo traz a liberdade, pelo menos a quem a ele adere. O militante de extrema-direita recebe um novo batismo que o livra de todo o pecado. Nunca mais terá que estudar melhor as questões, ouvir opiniões de quem sabe mais, ponderar diferentes hipóteses, respeitar os sentimentos dos outros ou tratar as pessoas como seres humanos. Adeus, culpa. Adeus, dúvidas. Adeus, ter de comprar rosas no Dia da Mulher. Por isso, pouco importa que nos debates André Ventura revele um discurso pobre, baseado na repetição incessante dos mesmos temas e até das mesmas palavras. Para os eleitores do Chega, Ventura esmaga, arrasa, destrói e extermina sempre. Quanto mais baixo for o nível de exigência, mais fácil é ser um herói.

 

11) Acumulam-se as semelhanças entre o Bloco de Esquerda e a Iniciativa Liberal, a começar pela tendência para uma propaganda mais convencional e “respeitável”. Difundir um cartaz com a palavra “Confiança” ao lado de Rui Rocha é como se, aos 8 anos de idade, a IL tivesse vestido um fatinho para fazer a primeira comunhão. Os perigos enfrentados pelos liberais na sua relação com o PSD são também análogos aos dos contactos entre o Bloco e o PS: se se aproxima demais, a Iniciativa pode receber um abraço de urso, mas caso se afaste muito será alvo de acusações de sectarismo e traição ao seu campo político. As dinâmicas internas de BE e IL assemelham-se na medida em que quem discorda da linha da direção tem poucas hipóteses de sucesso e acaba por sair do partido ou tornar-se irrelevante. No entanto, Bloco e Iniciativa aguardam 18 de maio com diferentes níveis de ansiedade. Enquanto a tribo de Mariana Mortágua corre risco existencial, o povo de Rui Rocha terá apenas de alcançar uns 10 deputados para poder cantar vitória.

 

12) O canal do You Tube Eleições em Portugal (antes conhecido por Banda Sonora das Eleições), responsável pela publicação de canções de sátira política, apresenta vários aspetos curiosos. Desde logo, os temas, cuja conceção denota cuidado apesar de ocasionais tropeções na rima e na métrica, não vêm acompanhados da identificação nem de autores nem de intérpretes. Além disso, embora o criador desconhecido do canal afirme pretender fazer humor a respeito de “todos os partidos”, apenas políticos de esquerda têm sido vítimas de raps, fados ou rocks com letras ácidas. Pelo menos, essas composições possuem mais hipóteses de serem levadas a sério do que o novo hino de campanha da AD (“Deixa o Luís trabalhar”).

 

13) A lista de candidatos da Iniciativa Liberal pelo círculo de Lisboa inclui os odivelenses André Francisco (em oitavo lugar), David Pinheiro e Marta Gamboa. Entretanto, já depois de um plenário de militantes da concelhia de Odivelas, o PSD designou Marco Pina como candidato a presidente da Câmara, numa repetição da escolha de 2021. Convicção de que a vitória é desta ou apenas falta de alternativa? Para já, o PSD, em cuja bancada parlamentar Sandra Pereira busca manter-se, tem coisas mais urgentes com que se preocupar.

 

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(Distribuição de folhetos da CDU na Pontinha. Fonte da imagem: CDU Odivelas)