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Desumidificador

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Eça de A a Z

Artur Corvelo: O protagonista de A Capital parte para Lisboa em busca da glória literária, mas apenas soma desilusões. Trata-se de uma personagem comovente pela sua ingenuidade e pela contínua busca do afeto que praticamente nunca recebe.

Branco, Camilo Castelo: Num artigo escrito por volta de 1997 para a revista 20 Anos, José Eduardo Agualusa afirmou que é como gostar de cães ou de gatos: quem admira Eça de Queiroz não costuma apreciar Camilo. De facto, sempre fui mais da claque de Eça, criador de personagens de carne e osso e não de Simões ou Teresas. Porém, no ano do bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco, talvez seja altura de redescobrir o autor famalicense de adoção, capaz de fazer coisas incríveis com a língua portuguesa.

Comer: Poucos autores dão tanta atenção como Eça ao prazer da boa comida e bebida, com refeições épicas narradas em sucessivas obras. Por exemplo, o Jacinto de A Cidade e as Serras começa a apaixonar-se por Portugal ao experimentar o vinho e a culinária da sua pátria.

Dâmaso Salcede: Foi António Sérgio a reparar em 1940 que, enquanto poucas pessoas conhecem alguém semelhante ao conselheiro Acácio, o perfil de Dâmaso, com a sua bazófia, cobardia, ignorância, pose de garanhão e ambição de ser “um ruminante farto e feliz”, ajusta-se a muitos homens portugueses.

Exagero: Estudiosos do século XIX português como Rui Ramos e Maria Filomena Mónica têm apelado à prudência de não tomar por um retrato fiel a caricatura do Portugal do seu tempo feita por Eça, injusta em aspetos como a baixa qualidade dos políticos ou a suposta estagnação do país, envolvido numa fase de dinamismo sob o governo de Fontes Pereira de Melo. A mesma cautela desaconselha a habitual avaliação das criaturas queirosianas como portugueses intemporais e possíveis de encontrar ao virar da esquina. Contudo, elas surgem tão naturais e verosímeis nos livros que a tentação é quase irresistível.

Futebol: Uma personagem de Os Maias menciona que o desporto surgido em Inglaterra ainda não existe no Portugal de 1876.

“Gente nasceu, gente morreu”: Existirá um melhor resumo da passagem do tempo que esta frase do último capítulo de Os Maias?

Humor: Quando Eça pretende ser engraçado, é engraçado a sério, quer nas crónicas quer nos romances.

Ilustre Casa de Ramires, A: Não há nada de inepto neste romance, seja a política local, o livro dentro do livro ou o paralelismo entre Gonçalo Ramires e Portugal, mas a obra não costuma provocar grande entusiasmo nos leitores atuais.

José Matias: Personagem que dá nome àquele que é talvez o conto mais interessante de Eça, cujo protagonista mostra uma incapacidade desconcertante de fazer o amor evoluir do sentimento para a prática.

Korriscosso: Poeta grego a trabalhar como empregado de mesa em Londres, retratado no conto “Um Poeta Lírico”.

Lisboa: Apesar das incursões de Eça por outras regiões portuguesas ou pela distante Pequim, esta é a cidade que o escritor poveiro melhor descreve, traçando um autêntico roteiro da capital do então reino na segunda metade de Oitocentos.

Maias, Os: O melhor romance da história da literatura portuguesa.

 

 

Negro: Cor das sotainas vestidas pelos padres católicos que Eça tão bem desenha como um grupo de hipócritas e interesseiros, sustentados pelo Estado monárquico ou pela titi Patrocínio e por outras beatas. No entanto, paradoxalmente ou talvez não, figuras como o abade Ferrão (O Crime do Padre Amaro) ou o padre Soeiro (A Ilustre Casa de Ramires) dão a entender que a Igreja poderia ser diferente e um conto queirosiano termina com Jesus a dizer “Aqui estou” no lugar onde era menos esperado.

Odivelas: A povoação saloia é referida por Carlos da Maia num jantar com Maria Eduarda em que evoca as aventuras amorosas de D. João V “na cela da madre Paula”.

Pais: Quem precisa deles? Segundo Eça de Queiroz, ninguém.

Queirosiana: Henrique Raposo costuma queixar-se de que Eça instituiu a narrativa, repetida ao longo das gerações pelos seus seguidores dentro das “elites” letradas (como Vasco Pulido Valente), da “choldra”, ou seja, de um Portugal sempre atrasado e decadente onde nada funciona. Na verdade, os portugueses que se dedicavam a essa generalização negativa sem nada fazerem para melhorar o país foram um alvo da pena do diplomata. A crítica queirosiana é dura, mas nunca cai no cinismo ou no desespero.

República: Apesar das farpas lançadas por Eça ao rotativismo e à monarquia constitucional, não é claro que tipo de sistema político o escritor gostaria de ver implantado no seu país. O romancista diverte-se, todavia, a satirizar o idealismo dos românticos defensores de uma vaga “democracia” da qual resultaria o fim de todos os males.

Sebastião: Amigo de Jorge e Luísa em O Primo Basílio, destaca-se na galeria queirosiana simplesmente por ser um homem decente no meio de imensos sujeitos ridículos ou desprezíveis.

Tragédia da Rua das Flores, A: Um romance inacabado, publicado apenas em 1980, que serve sobretudo para observar o desenvolvimento de várias ideias mais tarde usadas em obras como Os Maias e A Capital.

Universidade de Coimbra: Alma mater de Eça de Queiroz, recordada pelo escritor sem saudades.

Virgínia Sarmento Amado Abranhos: A esposa de Alípio Abranhos ganhou, curiosamente, maior espessura psicológica ao ser interpretada por Sofia Alves na série da RTP escrita por Francisco Moita Flores a partir do livro póstumo de Eça O Conde de Abranhos.

Xutos & Pontapés: Banda autora da canção “Toca e Foge”, que inclui o verso “Alguém que amaste sem saber o nome”, uma referência ao romance A Capital e à paixão de Artur Corvelo por uma misteriosa senhora vestida de xadrez.

Zagalo: Narrador de uma biografia do seu antigo patrão onde qualquer frase elogiosa causa uma impressão oposta à pretendida. O legado de Z. Zagalo foi retomado em 2015 por Sofia Aureliano em Somos o que Escolhemos Ser, um livro sobre Pedro Passos Coelho.

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